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Delito de Opinião

DELITO há cinco anos

Pedro Correia, 12.06.25

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JPT: «Muitos resmungam ou indignam-se com a campanha contra as estátuas e monumentos, devido à sua mácula colonial ou pré-colonial. Espantam-se também com a censura de uma empresa televisiva ao "E Tudo o Vento Levou". Estão enganados. Todas as gerações que foram actuantes fizeram uma avaliação do seu legado cultural e seleccionaram aquilo que deve ser preservado e retransmitido às novas gerações, construindo mundivisões consideradas adequadas. Chama-se a isso educação. Entretanto, reli há dias este livrinho, afamado, do poeta francês Charles Baudelaire, um oitocentista ainda algo lembrado. O que ele diz das mulheres é totalmente inaceitável, propagandeando a sua inferioridade, naturalizando-as. Exemplo de discriminação negativa, pura e simplesmente. Urge expurgá-lo, ao poeta, dessa educação. Cercear o acesso à sua obra. Reservá-la, porventura, apenas aos estudiosos dos processos opressivos. E há, decerto, mais exemplos. Deitemos "mãos às obras".»

 

Luís Naves: «Um país que sempre menorizou ou perseguiu os seus maiores em vida quer apagá-los de novo depois de mortos. António Vieira foi um grande escritor que devemos ler e admirar e foi também uma figura do seu tempo, que podemos tentar compreender melhor. A profanação da sua estátua em nome do anti-racismo é uma barbaridade imbecil, um crime contra o património da nossa nação. (E não tentem contestar a nossa liberdade de ter um património colectivo). Claro que estas guerras de cultura servem apenas para nos distrair das verdadeiras crises.»

 

Eu: «Marcelo Rebelo de Sousa, naquela modalidade de duplipensar em que se tornou exímio praticante muito antes de ascender ao Palácio de Belém, acaba de fazer nova declaração ambígua: Mário Centeno, o ministro em fuga, «fica para a história». Na dúvida, uso agá minúsculo: tratando-se de uma declaração não escrita, é impossível escrutinar com exactidão o pensamento do Chefe do Estado. Equiparia Centeno a um vulto digno de figurar em futuros manuais de História ou apenas a um alvo da petite histoire para uso momentâneo nos salões em voga?»