Delito à mesa (18)
Peixe fresquíssimo no extremo sul, onde a terra acaba e o mar começa. Aqui é aconselhável evitar o pecado da carne.
Sim, é verdade. Os olhos também comem. Quando o panorama é soberbo, como sucede aqui, o apetite desperta com mais vigor. Estamos nas imediações de Lagos, no alto de uma falésia. Lá em baixo, a bela praia do Camilo. Cá em cima, o restaurante homónimo. Aberto desde 1980, há nove anos nas mãos do actual proprietário. Que se preocupa em acorrer ao mercado, ainda o sol é mal nascido, em busca do peixe mais fresco. Nada de produto de viveiro.
Corvina grelhada, horas depois de sair do mar
Chego cedo, reservei lugar de véspera: é fundamental telefonar a marcar mesa. Na chamada época alta, como se presume ser a actual, a lista de espera pode ser longa: só há cerca de 40 lugares sentados n’ O Camilo distribuídos entre a sala interior, com amplas vidraças sobre o mar, e a esplanada, noutros anos atulhada de turistas – em grande parte ingleses, agora quase desaparecidos do litoral algarvio. Muitos sem fazerem a menor ideia da riqueza piscícola aqui disponível: mandam vir, por exemplo, costeletas de carneiro. Como se estivessem ancorados num pub britânico em vez de disfrutarem de bom ar e bom clima num dos recantos da Europa onde se come melhor peixe.
Sopa de peixe Tarte de limão
À entrada, um amplo mostruário do pescado do dia. Quem quiser, basta escolher. Aconteceu comigo: apontei para uma enorme corvina recém-chegada. Pedi que me fornecessem uma posta, bem grelhada. E assim veio à mesa, na companhia de batatas cozidas e legumes salteados, tudo em recipientes autónomos.
Noutra incursão, optei pelo bife de espadarte - que chegou igualmente bem acompanhado, em dose generosa: ninguém sai com fome daqui. Sobretudo se iniciar a refeição com uma sopa de peixe, bem fornecida de material piscícola. Recomendo.
Um senão: ainda não me habituei a comer peixe com talheres de carne, como aqui sucede. Será a nova moda – tal como dispensar toalhas na mesa. Lamento: não faz o meu género.
Mas o essencial é a qualidade da matéria-prima. E neste teste O Camilo passa com distinção. Apostei num branco algarvio, o Paxá, e fiz bem: funcionou como adequado actor secundário para fazer brilhar ainda mais a corvina. Na segunda visita, pedi um rosado algarvio, a copo: Barranco Longo, uma boa surpresa para quem não conhece.
O preço – contemplando ainda uma tarte de lima que superou a prova – foi uma agradável surpresa. Em qualquer outro país europeu com panorama similar, pagaríamos talvez o dobro. Valeu por uma sinfonia em homenagem ao oceano que o Infante D. Henrique tantas vezes dali avistou.
Restaurante O Camilo
Praia do Camilo, Lagos
Telefone 281 322 050
Não encerra