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Delito de Opinião

Delítio de Opinião

jpt, 07.11.23

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(Foto de José Sena Goulão, Lusa)

Está tudo estupefacto pelo terramoto acontecido. Ainda a quente permito-me este "delítio de opinião"* diante da derrocada destes oito anos de Costa, e isto em pleno seu crescendo da arrogância "maioritária" - tão demonstrada há dias no Parlamento, naquela patuscada de Costa ao atirar Galamba para o fecho da discussão do Orçamento, óbvia afronta ao Presidente mas também a todos o que tanto criticaram não só a ascensão do publicista do socratismo como a sua manutenção e recente promoção.

Esbardalha-se Costa agora devido à teia tentacular (passe o absurdo zoomórfico) de interesses de um partido que governou o país durante 22 dos últimos 28 anos, deixando para outros - a tenebrosa "direita", dizem-nos - a gestão das monumentais crises.

Costa, talentoso, apareceu hoje a demitir-se em pose de Estado, competente. Até à "direita" lhe gabam a "dignidade política e pessoal". Assumiu que sai ciente de nada se arrepender e de nada ter incumprido, de "cabeça erguida" - e "mãos limpas" depreendeu. Apenas porque não pode haver suspeitas de comportamentos criminalizáveis de um primeiro-ministro. E nem se vitimizou, apenas se disponibilizou à "Justiça" e às "instituições democráticas".

Melíflua "dignidade". Pois nem uma palavra para o realmente relevante: teve um chefe de gabinete, e manteve-o até ao limite do possível, acusado de umas trapaças autárquicas. Substitui-o por um outro, homem de estrita confiança, agora detido. O seu grande amigo, instrumento para as negociações oficiosas, está detido. Isto é o seu pessoal mais próximo. Tem ministros arguidos - entre os quais o famigerado Galamba, alguém por quem Costa tanto finca-pé tem feito. Isto para além das inúmeras trapalhadas que se têm seguido nos seus governos, algumas das quais o pudor me impede de aludir neste momento de queda desta gente. 

Ou seja, a questão não é se Costa tem comportamentos criminosos, à imagem de um seu antecessor correligionário - e acredito que não os tenha.  O problema é estritamente político. Por um lado é individual, residindo nos critérios que este primeiro-ministro tem para escolher as suas pessoas de confiança na condução do país - que são, vê-se, paupérrimos. Tornando-o um incompetente. E, note-se, nisso indigno, pois irresponsável. Por um outro lado é colectivo - e por isso muito mais importante -, e radica no estado desde há muito degenerado do Partido Socialista, cujas elites são useiras e vezeiras em malfeitorias patrimonialistas, minando o desenvolvimento do país. E por isso durante os anos destes três últimos governos tudo fizeram para parecer que "o socratismo nunca existiu". Mas não só existiu como lhes é o âmago.

Mas após a alegria da queda deste governo, e - sonho - desta malfadada geração "socialista", logo se levanta a angustiada questão. Quem para lhes suceder? Pois urge mudar, desenvolver o país. E é óbvio que para isso nos partidos democráticos se impõem "chicotadas psicológicas", passe o futebolês. E novos modelos tácticos. Que venham, e já. Sem atentar nos pesares de algumas vaidades e anseios pessoais.

* Agradeço a CFN, veterana leitora deste blog, que logo me enviou a sua exigência de que escrevesse eu ainda hoje um "delítio de opinião"...., assim tornando irresistível o apelo.

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