Declaração de voto
Não tenho um candidato. Disse, na altura própria, o que o ex-meu partido deveria fazer e aquele, com grande desdém, fez outra coisa, indo atrelar-se ao carro do vencedor antecipado, como se os respingos da vitória lhe caíssem necessariamente no regaço.
Fez mal. E que se danem as boas cabeças da estratégia e da táctica, no ex-meu partido e fora dele: o tempo das tácticas é quando o Poder está perto. Quando está longe, o melhor caminho é o da autenticidade, o que quer dizer, para um partido com passado e história, o apresentar-se ao eleitorado com um candidato que perdesse com dignidade e, de caminho, explicasse por que razão é que o CDS não é nem a IL nem, muito menos, o Chega!
Votar nulo, para mim, não é uma opção: seria preciso que não houvesse maneira de votar contra a esquerda. Mas há – Ventura e Mayan.
Em Ventura não posso votar. O principal problema do país não são os ciganos, nem a imaginária excessiva brandura do Código Penal, nem a suposta falta de poderes das polícias (pelo contrário: a ideia de que, para fazer cumprir a lei, são necessários atropelos a direitos individuais é uma chantagem típica de direitistas raivosos e acéfalos – para esse peditório não dou). O problema sério é a economia, e dentro desta o conjunto de razões pelas quais o país não cresce. E, sobre isso, Ventura debita truísmos pouco convincentes.
De modo que a conclusão deixo, em jeito de prémio para os leitores corajosos por terem chegado aqui, aos que também forem argutos.