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Delito de Opinião

Declaração de voto

José Meireles Graça, 10.01.21

(Continuação do dia anterior)

Vitorino Silva é a versão cândida do socialista comum. Recolherá os votos de protesto dos que não se reveem em nenhum dos outros candidatos, sobretudo dos socialistas que detestam Marcelo e têm um grande verdete à candidata Gomes, que provoca urticária a alguns camaradas que a veem como ela é: uma pasionaria de contrafacção, cheia de proclamações e indignação selectiva contra a corrupção. Não é de crer que o Tino tenha muito mais votos do que aquando da sua última incursão nestas andanças, não obstante a generalizada benevolência de que é alvo, mas é de crer que tenha uma participação honrosa.

Ana Gomes é o que se diz acima. Recolhe os votos de socialistas ceguetas, uma variedade de que abundam numerosos exemplares, tantos que serão provavelmente mais do que os dos socialistas que apoiarão Marcelo, e a esquerda teria grande orgulho em que ela ficasse à frente de Ventura, bem como alguma direita no caso contrário, uma excruciante dúvida que excita não poucos comentadores. Em qualquer caso continuará a andar por aí, infelizmente.

Ventura é uma excelente novidade no espectro político português porque o equilibra. Há quarenta anos que a esquerda marca a agenda, por nele estar sobre-representada: um partido comunista, portanto nuclearmente antidemocrático; um partido radical, depositário das demências típicas da seita, cá e em toda a parte; e um partido socialista francês quatro dias por semana, e tradução atamancada da social-democracia nórdica nos outros três. Com o Chega!, tem-se um partido radical de direita, que vem preencher um vazio, no caso apimentado com o ódio aos vícios, compadrios e distorções que a hegemonia do centrismo e, recentemente, uma versão socialista mais virulenta, acumularam no sistema. A personalidade do líder cola bem a um partido deste tipo, vociferante, indignado, topa-a-tudo em havendo causas sem patrocínio. A candidatura de Ventura é uma etapa na caminhada para chegar, não à Presidência, mas a um futuro governo de coligação. E a sua simples presença nos debates, se lhes rebaixa o nível, por uma típica inclinação para a peixeirada, vem pôr no espaço público, quer se goste ou não, questões que dele andavam arredadas, ao mesmo tempo que aumenta a pressão sobre a outra direita, a tradicional, para verberar o imenso desastre da governação que trouxe o país à situação em que está.

(Esta direita é necessária, e só não existe há mais tempo porque as coisas levam tempo a chegar às nossas praias. A necessidade de pôr nas prateleiras do supermercado da política ideias que tinham clientes mas não oferta levou à defesa de retrocessos civilizacionais como a prisão perpétua, que até Salazar nunca achou necessária, e discutir, como se não estivesse em causa a negação de uma das poucas coisas de que Portugal se pode genuinamente orgulhar, assuntos como a pena de morte. Isto e mais. Embora: no país onde um estalinista empedernido como Jerónimo tem uma palavra a dizer na governação, e há quem leve a sério as tretas delirantes de uma académica de pacotilha como Joacine, para não falar do animalismo repelente do Eng.º André Silva, era o que faltava se no extremo oposto não pudesse haver quem zurzisse descabeladamente estas curiosidades).

Amanhã continua. Stay tuned.

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