De Sócrates ao futuro
1. Há o processo criminal. Esse fica para a Justiça.
2. Há o conluio entre o Estado e grupos privados, quase inevitável num país em que os políticos fazem questão de garantir que o primeiro é indispensável para tudo. As tímidas tentativas de Passos Coelho (que não do PSD) para mudar a situação estão hoje anuladas. Tal como o próprio Passos.
3. Há a cegueira dos compagnons de route, entretanto de regresso ao poder. Ou - acreditando eu não estarmos perante almas ingénuas - os interesses próprios que os levaram a fechar os olhos a todos os indícios. Os mesmos interesses, de resto, que se sobrepuseram aos do país após as eleições de 2015 e levaram à constituição da Geringonça.
4. Há os tiques intervencionistas e autoritários, que António Costa, Augusto Santos Silva, Carlos César, Eduardo Ferro Rodrigues, João Galamba et al - de Catarina Martins, das manas Mortágua ou de Jerónimo de Sousa outra coisa não seria de esperar - mantêm vivos e nem tentam esconder.
Pouco importa; a acreditar nas sondagens, os portugueses apreciam gente oportunista e autoritária. Têm-na tido - e continuarão a tê-la - em abundância. Considerando os resultados de Narciso Miranda, Valentim Loureiro e Isaltino Morais nas últimas eleições autárquicas (16,2%, 19,9% e 41,7%, respectivamente), e a insignificância comparativa dos desvios em que estiveram ou poderão ter estado envolvidos, arrisco-me a extrapolar que o próprio Sócrates ainda poderá ser eleito Presidente da República. Em 2026, talvez. Ou, no máximo, em 2031.