De mãos dadas, cantando e rindo
«Um partido da oposição e um líder da oposição está disponível para colocar em primeiro lugar o interesse de Portugal e só depois colocar o interesse partidário. E colocar o interesse de Portugal à frente é estar disponível para fazer com os outros aquilo que só com os outros consegue ser feito.»
Frase de António Costa, num remoque à cada vez mais cordata oposição ao Executivo socialista? Não. A declaração é do próprio "líder da oposição", o social-democrata Rui Rio. Que a cada intervenção que faz procura mostrar ao primeiro-ministro que é muito mais bem comportado do que os parceiros da geringonça parlamentar. Como bem demonstrou na sua recente deslocação a Bruxelas: "Temos de estar unidos ao próprio Governo português."
Perante este caso digno de um país do terceiro mundo que dominou o dia mediático de ontem, e levou o ministro das Finanças a sacudir a água do capote como um recém-chegado e não estivesse há dois anos e meio em funções, o que disse o presidente do PSD? Nem uma palavrinha sobre os estrangulamentos no sector da saúde que pudesse perturbar o sossego governamental: limitou-se a mandar dizer que na próxima semana irá "visitar hospitais".
Entretanto, reafirmava pela enésima vez a sua disponibilidade para celebrar "acordos de regime" em áreas tão diversas como o sistema político, o sistema judicial, a segurança social, o desenvolvimento do interior, as políticas de natalidade e a educação.
Quase tudo. E a lista não é exaustiva, como os tempos mais próximos demonstrarão.
Admiro este espírito visionário de Rio. E a todo o momento espero dele um passo ainda mais à frente. Lançando a mais ousada de todas as propostas: a fusão definitiva entre governo e oposição que permitirá enfim a celebração sem mácula nem dissidência de mil pactos de regime.
Uma verdadeira união nacional. Todos irmanados em roda, de mãos dadas, cantando e rindo. A bem da nação.