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Delito de Opinião

De boca bem tapada

Pedro Correia, 28.08.20

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Passeio nas ruas de Lagos, onde me desloco pela segunda vez neste Verão. Mais gente por estes dias, mas confirma-se a tendência: muito menos turistas do que no ano passado. Tanto em terra como sobre as águas, fluviais ou marítimas.

Cruzo-me com um número crescente de pessoas, na rua, usando máscaras. Devem confundir o Algarve com a Madeira, onde - aí sim - as autoridades forçam a utilização permanente de máscara em todos os locais públicos ao ar livre, exceptuando (por enquanto) praias e piscinas.

 

Não falta, no entanto, quem utilize aquilo só como enfeite. Transportando-a na testa, no queixo, na orelha, no ombro, no pulso, no cotovelo, onde calha. Para andar assim, não será melhor ficar guardada?

No passeio público, junto à ribeira de Bensafrim, cruzo-me com um pai e dois filhos pequenos: vão todos de máscara encarnada, com o símbolo do Benfica. Sinto-me como espectador de um Carnaval antecipado.

 

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Bem à portuguesa, na hora de comer, formam-se filas. Todos acorrem à mesma hora aos mesmos locais. Largas dezenas de pessoas - sem manterem distância de segurança - amontoam-se, aguardando vez, à porta de estabelecimentos como a Casa do Prego e a Adega da Marina.

Chegam a esperar mais de uma hora por um lugar em espaços apinhados, onde a comida é de uma banalidade confrangedora, quando existem, ali bem perto, muitos restaurantes com melhor ementa e espaço disponível.

 

Nunca hei-de entender estes comportamentos. Mais risíveis só as pessoas que vou vendo, de toalha estendida no areal da Meia Praia, também de máscara posta: devem imaginar que a brisa marítima transporta o vírus.

Reparo num par de namorados caminhando de mão dada à beira-mar. Vão ambos mascarados, como se receassem contaminação mútua. Até o amor cede passo à disciplina sanitária, mesmo na idade em que a líbido comanda a vida.

Também se beijarão de máscara? Não me custa imaginar tal coisa. Em tempo de pandemia, todas as precauções são poucas.

 

O maior dilema ocorre na hora de comer. Creio ter chegado a hora de o Presidente da República fazer um apelo aos criativos da indústria portuguesa, incentivando-os a conceber uma máscara com fresta removível na zona labial para permitir a rápida ingestão de alimentos sem necessidade de retirar o famigerado adereço. Portugal registaria a patente e mostraria ao mundo como se faz.

Poderia chamar-se Máscara Marcelo, em merecida homenagem ao cidadão português que transporta aquilo há mais tempo e durante mais tempo. Foi, aliás, o primeiro a correr sagazmente para casa, encerrando-se durante duas semanas em voluntária quarentena doméstica, enquanto quase todos andávamos por aí, à vontadinha, expostos à codícia do Covid.

Ele é que a sabe toda, vou pensando entre dois mergulhos. A praia continua desafogada - sinal evidente de que o inquilino de Belém permanece longe daqui.

 

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