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Delito de Opinião

Da sombra dos bastidores às luzes da ribalta

Mariana Vieira da Silva

Pedro Correia, 04.09.21

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António Costa não dá ponto sem nó: foi para férias deixando a chefia do Governo nas mãos de uma mulher, por sinal a mais jovem de todos quantos tomam assento no Conselho de Ministros. É difícil acreditar em coincidências: a titular da pasta da Presidência, quarta na hierarquia do Executivo, assumiu a condução dos assuntos governativos por ausência simultânea dos colegas dos Negócios Estrangeiros e da Economia, ministros de Estado como ela.

Tudo isto obedece a uma lógica cartesiana. Novamente não por coincidência, a própria ministra presta declarações a um semanário considerando «inevitável que todos os partidos venham a ser liderados por mulheres». Só pode aludir ao seu próprio partido – a menos que estivesse a pensar no PCP, que em cem anos de história manteve o posto máximo reservado a homens. No PSD e no CDS a questão não se põe: já tiveram Manuela Ferreira Leite e Assunção Cristas na presidência. Nem no Bloco de Esquerda, onde Catarina Martins é a primeira figura desde 2012. Nem no PAN, agora com liderança feminina.

Que esta consagração institucional ocorra como aperitivo do congresso do PS, só dá mais consistência à opção de Costa. O primeiro-ministro vai já preparando cenários de retirada. Que acontecerão por etapas, à maneira germânica, seguindo o exemplo de Angela Merkel: primeiro no partido, depois no Governo. O líder socialista veria com muito mais agrado um PS confiado à discreta ministra que hoje assume a difícil tarefa de coordenação política do Executivo do que a Pedro Nuno Santos, o radical de esquerda que há uns anos quis pôr a tremer os banqueiros alemães e corteja descaradamente o Bloco.

No PS cada um pensa por si, mas a vontade do chefe tem muita força. Abre-se assim a via verde para que Mariana Guimarães Vieira da Silva – lisboeta de 43 anos, socióloga de formação, adepta do Sporting – possa suceder a Costa como secretária-geral do PS num prazo ainda incerto. Para já, foi ela a anunciar aos portugueses as mais recentes medidas de «libertação da sociedade» após ano e meio de confinamento. É outra novidade: até há pouco, só costumava transmitir notícias pouco animadoras em torno da pandemia.

No partido, integra o Secretariado Nacional, em parceria com Pedro Nuno. Mas no Executivo tem patente mais elevada. A verdade é que a sua promoção de secretária de Estado adjunta do primeiro-ministro a ministra, em Fevereiro de 2019, confirmou-a como imprescindível junto do chefe do Governo, como antes fora para Fernando Medina, com quem trabalhou na Câmara de Lisboa.

Sabe-se que não aprecia as luzes da ribalta, preferindo actuar nos bastidores, onde vai superando provas na coordenação interministerial. Evita fugas de informação, sobreposição de agendas e discursos desencontrados que perturbem a acção governativa. Recebe e ouve quem Costa não tem paciência para escutar.

Há pessoas assim: não querem palco, mas estão destinadas a tê-lo. Pressente-se que Mariana chegará lá, resta saber quando.

 

Texto publicado no semanário Novo

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