Da Segunda Circular ao Coliseu
Marcelo Rebelo de Sousa deu o pontapé de saída na campanha presidencial sem necessidade sequer de abordar o tema. Fê-lo em horário nobre, com os canais informativos de televisão a transmitir em directo, e aproveitando a seu favor o palco do congresso do PSD, que fora montado para outro efeito. Bastou-lhe aparecer quando ninguém esperava e falar com a habitual desenvoltura durante meia hora: obteve audiência máxima, o aplauso caloroso dos congressistas e o sorriso condescendente de Passos Coelho.
Tornou-se ele próprio a notícia da reunião magna dos sociais-democratas e condicionou por completo a margem de manobra da direcção laranja, condenando à irrelevância a moção de estratégia global de Passos, na parte referente às presidenciais, ainda antes de ser votada.
Com brilho formal, perfeito controlo do tempo e um notável sentido de humor -- confirmando neste caso um dos atributos mais raros da política portuguesa, como o JAA justamente observou aqui. E lançando um novo mito na iconografia laranja: depois de Aníbal Cavaco Silva a rodar o Citroën no vitorioso congresso de 1985, tivemos desta vez o futuro candidato presidencial Marcelo descobrindo a estrada de Damasco capaz de conduzi-lo a Belém, via Coliseu dos Recreios, enquanto seguia de táxi na Segunda Circular.
É em momentos como este que devemos render tributo ao mérito. Marcelo dá dez-a-zero ao melhor especialista em marketing político. Comparado com este profissional, todos os outros são amadores.