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Delito de Opinião

Da rádio pirata ao palco global

Nuno Santos

Pedro Correia, 02.12.21

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Nuno Santos não deve ser supersticioso. Se o fosse, talvez sugerisse outro dia para o lançamento da CNN Portugal. 22 de Novembro é uma data traumática para milhões de norte-americanos: recorda-lhes a fatídica manhã em que o Presidente John Kennedy foi assassinado em Dallas, fez agora 58 anos. Nessa altura ainda o jornalista iniciado numa rádio pirata na Amadora não tinha nascido. Mas chegou à profissão a tempo de testemunhar as maiores mudanças desde sempre registadas num meio que transitou do analógico para o digital. Da monopolista RTP a preto e branco a que ele assistia em miúdo à informação instantânea que hoje recebemos nos telefones de bolso, a revolução tecnológica alterou a face do planeta. O canal de notícias fundado em 1980 pelo magnata Ted Turner – a Cable News Network, com sede em Atlanta, Geórgia – foi um primeiro passo nessa direcção com a sua aposta deliberada nas transmissões em directo. Encarando o mundo como palco global.

Director da CNN Portugal, nascida nesta segunda-feira, Nuno Santos inaugura aos 53 anos outra etapa numa vida profissional em que subiu a pulso desde aqueles dias remotos na Rádio Regional da Amadora. Seguiram-se a Rádio Mais, a Comercial, a TSF – e depois a televisão, onde seguiu o mesmo percurso ascendente. Dirigiu a programação dos três canais generalistas e comandou a informação da RTP. Em 2001 foi ele a conduzir o parto da SIC Notícias, contrariando as vozes agoirentas que sempre se escutam nestas ocasiões, incluindo a de muitos jornalistas, avessos à mudança. Teve sucesso, como sabemos: a marca impôs-se. E não hesitou em assumir rupturas sempre que entendeu ser necessário.

Andou por fora durante seis anos, trabalhando em projectos ligados à comunicação na área digital em países tão diversos como a África do Sul, Emirados Árabes Unidos e Espanha. Regressou em 2019 para lançar outro projecto de raiz: o canal 11, da Federação Portuguesa de Futebol – hoje uma referência no panorama desportivo nacional. Não tardou a receber uma proposta irrecusável da TVI, onde foi director de entretenimento e director-geral. Mantém-se no grupo Media Capital, agora com o maior desafio da sua carreira, nesta parceria entre o canal informativo com sede em Queluz e o grupo americano Turner Broadcasting.

A CNN Portugal é parcela mínima num império que alcança 425 milhões de lares em todos os continentes. Isto não diminui a motivação de Nuno Santos, que continua a entrar em campo com a mesma determinação do futebolista homónimo que integra o plantel do Sporting. A coincidência onomástica deve fazer sorrir o Nuno televisivo, sportinguista do coração.

Na noite da inauguração deste canal que passou a dirigir, pronunciou frases simples e claras: «Queremos elevar o patamar do jornalismo que se faz em Portugal. Acreditamos que é possível.» Palavras ambiciosas, num tom que raras vezes se escuta neste país de queixumes e lamúrias. E que de algum modo o definem: ele faz questão de remar contra a corrente.

 

Texto publicado no semanário Novo

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