Da «libertação» à depressão
A 20 de Julho, numa espiral de propaganda já a pensar nas autárquicas de 26 de Setembro, o Governo começou a anunciar um suposto "dia da libertação total" da covid-19, logo ecoado pela imprensa afim.
A 29 de Julho, o primeiro-ministro especificava: seriam introduzidas «três fases para a próxima fase de libertação da sociedade e da economia, de modo progressivo e gradual». A escolha das palavras não era inocente.
Nesse dia jornais como o Expresso imprimiram aquilo que António Costa mais queria ler: «Libertação total marcada para Outubro.»
Parece ter sido há uma eternidade.
Que «libertação», afinal?
Ontem, na sua enésima conferência de imprensa a propósito do coronavírus, António Costa anunciou um novo pacote de severas medidas restritivas. Num certo sentido, foi mais longe que nunca. Agora vai ao ponto de recomendar-nos que usemos máscaras dentro de casa e partilhemos a ceia natalícia devidamente distanciados, com as janelas todas abertas. E deixa o aviso: «Que ninguém deixe de fazer pelo menos um daqueles autotestes antes da consoada e do almoço de Natal.»
Hei-de rever no dicionário o conceito de «libertação».
Quase apostava que nada tem a ver com este clima de depressão em que voltamos a mergulhar.