Da irrevogável decadência
Se existe algo a que possa chamar-se "morte digna", encontra-se a muitas milhas de distância do CDS. Gerido como uma associação de estudantes desde que passou a ser dirigido pelo actual líder, oriundo da organização juvenil do partido de Adriano Moreira, Paulo Portas e Assunção Cristas, o Centro Democrático Social tem dado ao País uma deplorável imagem nestes dias que antecedem o seu funeral. Com "Chicão" a exibir pavor do confronto interno, desmarcando o congresso que fixara por sua iniciativa para os dias 27 e 28 de Novembro. Ao perceber que tinha sérias hipóteses de sair derrotado, ensaiou esta jogada palaciana no vetusto casarão do Caldas para silenciar os críticos internos. Entre os quais se incluem todos os sobreviventes daquele que já foi o mais brilhante grupo parlamentar no hemiciclo de São Bento.
"Chicão", que me garantem gostar de tourada à portuguesa, se integrasse um grupo de forcados só teria lugar como rabejador. Pega de caras não é com ele. Desconsidera o eurodeputado Nuno Melo - já quase com mais anos de militância no partido do que ele tem de vida - e todos quantos o apoiam. Transforma em letra morta as decisões do Conselho de Jurisdição Nacional, que funciona como tribunal interno. Faz coro com os socialistas exigindo agora eleições legislativas tão cedo quanto possível, sabendo que o seu mandato na liderança partidária termina em Janeiro. E reza pela bolsa marsupial de Rui Rio, pronto a transformar o CDS num satélite do PSD. Ser os "verdes" dos laranjinhas: eis, em poucas palavras, ao que se resume o programa de "Chicão".
Quando este miúdo foi confirmado como sucessor de Assunção Cristas, vai fazer dois anos, escrevi aqui um breve postal intitulado "De Amaro da Costa a Chicão", com fotografias de ambos: simbologia clara, hoje ainda mais evidente, da irrevogável decadência de um partido fundador da democracia portuguesa.
Bloco de Esquerda e PCP têm sérios motivos para queixar-se de António Costa, que aproveitou o ciclo da geringonça para tentar suprimi-los do mapa eleitoral. No caso do CDS nem foi necessária a intervenção de Costa: o cangalheiro está sentado no cadeirão máximo do partido, entretanto reduzido à expressão mínima.
É preciso declinar muito para terminar assim.