Da arte de furtar
Há uma diferença entre plágio e roubo. O plagiador "inspira-se" na criação alheia. Por vezes para citá-la de forma explícita, como quando Maurício de Souza põe a inconfundível cara da sua Mônica no corpo da Mona Lisa.
O ladrão apropria-se disso sem prestar vénia nem pedir licença.
Os ladrões, por sua vez, dividem-se entre os lamurientos e os restantes.
Os lamurientos são aqueles que, sem o menor vertígio de vergonha, surgem à boca do palco no papel de abusados na expectativa de deixarem de ser apontados a dedo enquanto abusadores. Chegam ao ponto de lamentarem sofrer "danos de imagem" quando surge a notícia de que andaram anos - às vezes décadas - a assaltar propriedade intelectual. Ou a "furtar", para usar o delicado verbo a que algum jornalismo servil recorreu para noticiar a impune pilhagem aos paióis de Tancos.
Aqui chegados, cumpre reconhecer o talento de Tony Carreira, que pode invocar Picasso como caução intelectual. Dizia o criador da Guernica que "os bons artistas copiam e os grandes artistas roubam".
Nesta acepção, Carreira é indiscutivelmente um grande artista.