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Delito de Opinião

Cristofobia, essa palavra de raro uso

João Pedro Pimenta, 07.05.17

Hoje em dia encontramos fobias por toda a parte. Não me refiro a doenças clinicamente determinadas, mas às fobias sociais, sobretudo no que à sexualidade e religião dizem respeito. Entre outras, encontramos a homofobia (que se tende a exagerar nuns casos e a ignorar noutros), a islamofobia, e, já sem o sufixo mas usado pelas mesmas razões, o anti-semitismo, normalmente reduzido à sub-espécie anti-judaísmo ou mesmo anti-sionismo.

É precisamente no caso das religiões que fico mais perplexo quando vejo palavras usadas por tudo e por nada. Quando se fala da islamofobia na Europa por exemplo. Não que não a haja (e por vezes passa despercebida, como o atentado recente num centro islâmico de Zurique), mas tende não raramente a ser sobrevalorizada. Ou o anti-semitismo, outro fenómeno inegável. Mas é raro, raríssimo, encontrarmos referências à cristofobia.

Vimos, recentemente, um atentado na principal igreja copta do Egipto que vitimou inúmeros fiéis, cancelou as celebrações da Páscoa e motivou uma atenção especial do Papa na sua visita recente ao país. Vemos o número de cristãos no Médio-Oriente, ali presentes desde os tempos bíblicos, a diminuir constantemente, seja porque fogem para outras paragens, seja porque são simplesmente liquidados pelas maiorias. Boa parte dos seus mosteiros e igrejas são agora ruínas ou meras recordações. No Iraque, na Síria, no Egipto (há pouco mais de meio século, os cristãos de Alexandria, contando também com as comunidades italianas, gregas e britânicas, seriam mais de metade da população da cidade), noutras paragens do norte de África e do Sahel, mesmo no Líbano, a percentagem tem diminuido drasticamente.

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Apesar disso, é raríssimo encontrarmos a palavra cristofobia para dar nome a essa trágica mudança demográfica e cultural. Quando qualquer gesto menos simpático para com os muçulmanos na Europa, por exemplo, dá logo azo a acusações de islamofobia, não se compreende porque é que em situações bem mais graves não se fala de actos cristófobos. A palavra deve soar desconhecida a muitos, mas não é nenhuma invenção de última hora. Na realidade, ocasiões houve em que se a usou, mas para garantir que era "uma invenção" e um pretexto para a vitimização.

 

Não deixa de ser estranho que a religião que, juntando todas as suas igrejas, reúne mais fiéis no Mundo, não tenha grandes referências vocabulares para as perseguições de que é alvo. A explicação pode estar, para além da secularização da sociedade ocidental, nos medos e mentalidades pós-coloniais, ligadas a uma certa ideia de politicamente correcto, em que o cristianismo seria a religião do "ocupante" ocidental, pelo que a perseguição dos cristãos tratar-se-ia de uma justiça histórica e da expulsão dos antigos dominadores. Uma ideia peregrina, já que as populações que mais sofrem são minorias há muito estabelecidas no terreno, ou pelo menos evangelizadas sem ser à força (no  extremo-oriente, por exemplo). O que é certo é que as perseguições cristãs não só provocam menos eco como raramente se ouve a palavra que lhes devia estar associada.

 

Não há nenhuma razão para que o termo cristofobia não seja usado como merece. Quando há perseguições a cristãos e tentativas de eliminar a sua cultura é disso mesmo que se trata. A cristofobia existe, é constante e reiterada e infelizmente não tende a desaparecer. O pior mesmo é ser ignorada e escondida. Se não ajudamos os que são perseguidos, ao menos não escondamos que o são nem neguemos as palavras certas para o denunciar.

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