Coragem
Milhares de pessoas desafiaram os esbirros armados em Moscovo para se despedirem ontem de Alexei Navalny, o mais desassombrado opositor do tirano russo, assassinado pelo "crime" de defender o respeito pelos direitos humanos e a instauração de um sistema democrático no seu país.
Sem surpresa, houve mais de 400 detenções: um gesto tão simples como depositar flores na campa de um morto ou em monumentos alusivos a figuras históricas habilita quem o faz a ser julgado por crime de lesa-pátria.
Mesmo cercados pela polícia de choque, estes bravos cidadãos prestaram homenagem ao homem sem medo, agora mártir da resistência. Oraram dentro e fora da igreja onde decorreu a cerimónia fúnebre, com os pais de Navalny na primeira fila. Muitos com olhos marejados, sem reprimirem as lágrimas. Parte deles em silêncio: as palavras, na Rússia, podem originar pesadas penas de prisão. Mesmo assim não faltou quem entoasse de forma bem audível frases contra o ditador e a agressão imposta por Putin à Ucrânia. «Não à guerra» foi o grito mais escutado.
No mundo contemporâneo, há quem sinta dificuldade em apontar exemplos concretos de coragem: parece coisa fora de moda. Pois coragem é precisamente isto.