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Delito de Opinião

Convidado: OCTÁVIO DOS SANTOS

Pedro Correia, 19.07.17

 

Mulheres de(s)arma(da)s

 

Muito se tem falado, discutido, argumentado, justificada mas infelizmente, nos últimos anos – décadas! – sobre a calamidade dos incêndios em Portugal, e que atingiu um trágico, revoltante, apogeu no passado mês de Junho em Pedrógão Grande, com a morte de (pelo menos) 64 pessoas. Uma calamidade que tem muito de criminalidade – bastantes (se não a maioria) dos fogos são ateados por incendiários que apenas sofrem reduzidas, ridículas punições – e que só parece não ter fim porque todos os governos – enfim, o Estado – têm falhado na sua mais básica função, a de proteger a integridade do território, privilegiando a vigilância, a coordenação, o reforço e a aplicação de meios, humanos, financeiros e técnicos onde são mais necessários. Não é difícil, apenas requer vontade e trabalho.

 

Porém, existe outra – continuada – calamidade no nosso país, esta indubitável e exclusivamente de índole criminal, e que já causou, no mesmo período de tempo, muitas mais vítimas do que os incêndios; aliás, um estudo divulgado em Novembro de 2016 indicou que, nos 12 anos anteriores, registaram-se mais de 450 homicídios (ou «femicídios»…) concretizados… e 526 tentados! Mais especificamente de mulheres, vítimas da fúria machista, da raiva revanchista de ex-namorados e de ex-maridos. Que, quantas vezes, tiram igualmente a vida a outros, familiares e amigos, que têm o azar de estarem, no momento e no local errados, na companhia do alvo principal do seu ódio.

Falar nisto como «violência doméstica» não é suficiente. O que mais surpreende neste assunto gravíssimo, que é sem dúvida o pior dos escândalos numa nação em que eles abundam, é o (quase) silêncio… sobre algo que constitui um padrão preocupante, alarmante, com características de um massacre permanente, de assassínios em série, quase que se diria… de genocídio. Que suscita, como habitual, repetida reacção, uma impotente, inútil consternação. Onde estão as feministas, sempre prontas a reclamar contra a «sociedade patriarcal», a «masculinidade tóxica» e outros disparates do mesmo… género, mas que neste âmbito se mantêm incomodamente caladas e inactivas, quiçá rezando para que esta semana nenhuma outra mulher seja assassinada? À semelhança de Catarina Martins, que, agora que existe um governo que ela apoia, já não exige a demissão de ministros por causa dos incêndios mas que se limita a esperar que chova?

 

Esta maré de matança misógina não é, não tem de ser, um fenómeno fatal, «natural», inevitável. Há soluções, respostas, para o problema. No entanto, são um pouco «radicais»… para um país que «progressivamente» se tornou demasiado contemporizador para com a criminalidade, chegando ao cúmulo de ter como pena máxima 25 anos de prisão… independentemente do número de homicídios que se cometa – o castigo é idêntico, quer se mate um, dez, cem ou mil!

Não é, pois, de estranhar que os que matam as ex-esposas ou as ex-namoradas, e quando não se suicidam a seguir, invariavelmente se entregam na esquadra de polícia mais próxima – eles sabem, sentem, que o tempo que gastarão na prisão será mais do que compensado pela satisfação de terem «lavado» a sua honra. Repare-se que muitas, a maioria, das vítimas já haviam sido ameaçadas de morte pelos seus futuros carrascos, já tinham sido objecto de agressões, físicas e psicológicas, pelo que o perigo já era conhecido, previsível.

 

Que fazer, então? É muito simples: a essas mulheres confirmadamente em risco devem ser dadas armas de fogo, pistolas, talvez espingardas, e o treino para melhor as usarem e se (legitimamente) defenderem se e quando for preciso. Obviamente, pela polícia, em colaboração com a polícia. Porque esta, evidentemente, não pode, não consegue, mesmo que queira, estar sempre a montar guarda junto daquelas mulheres nas suas casas, nem acolhê-las nas esquadras. Estas nem sempre, ou nunca, estão situadas ao lado das casas das potenciais vítimas. Por mais rápidos, eficientes, corajosos, competentes que sejam, os agentes da autoridade raramente, se é que alguma vez, chegam a tempo de evitar os crimes «passionais». Logo, as «presas» têm de se tornar «predadoras». Em vez de desarmadas, as mulheres têm de passar a ser… de armas.

 

 

Octávio dos Santos

(blogue OCTANAS)

3 comentários

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    João André 20.07.2017

    Não li todos os textos dos convidados, mas dos que li concordo. Aliás, temi-o quando vi quem era o autor.

    Mas tudo bem, a diversidade de opiniões consegue-se precisamente assim. E mesmo que a proposta seja (para mim) ridícula, não faz mal discuti-la.
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    Octávio dos Santos 20.07.2017

    Mas que medricas que você me saiu... «temer» o meu texto?! Veja lá se é necessário refugiar-se em algum dos «espaços seguros», imunes a opiniões politicamente incorrectas (isto é, não esquerdistas), que abundam actualmente em certas universidades...

    ... E, já agora, apresente uma proposta que não seja «ridícula»... mas que seja, ao mesmo tempo, e comprovadamente, eficaz. Ao contrário de outros, eu dou menos (ou nenhuma) importância ao «parecer bem» do que à acumulação de cadáveres. Neste assunto, e não só, estou farto de conversa (fiada)... e que não se tenha a noção das prioridades.
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