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Delito de Opinião

Convidado: JOSÉ DA XÃ

Pedro Correia, 17.05.17

 

Palavra de médico

 

Desculpem este à-vontade ao entrar assim, de supetão, numa casa que, não sendo minha, visito amiúde, para dizer somente que um homem não é de ferro. Nem de madeira ou silicone (se bem quem haja por aí quem use, mas enfim…).

O que trago aqui é aquele imbecil sentimento de impotência perante a classe médica. É mais ou menos consensual que os médicos são um tanto corporativistas, lavando quantas vezes as mãos com as velhas desculpas já de todos sobejamente conhecidas.

Partindo deste pressuposto, reconheço que não tenho qualquer hipótese de ser convenientemente tratado, porque cada profissional que consulto anuncia, para os mesmos sintomas denunciados, diferentes palpites de doenças, consoante a sua especialidade.

 

Passemos assim aos factos.

Um destes dias surgiu-me uma dor intensa no pé direito. A dor apesentava-se com tamanha intensidade que quando me deslocava mais parecia um ancião de provecta idade.

Consultei então um médico muito simpático que avançou com o primeiro palpite: gota! E disse-o de forma peremptória. Palavra de médico.

Uma série de questões formuladas levou-o a concluir que o problema tivera origem na pinga do fim de semana. Prescrição de análises, sangue tirado para a cabidela e o resultado veio finalmente, dizendo: não tem nada que justifique essa dor!

No entanto insiste numa medicação específica e numa dieta pormenorizada. Pílulas azuis, verdes, amarelas, tudo para combater o tal… nada.

Não convencido, procuro outro especialista. Mais exames, pílulas de outras cores, mas sem evidentes melhoras. Diz o médico actual que deverão ser artroses. Artolas sou eu em lhes dar crédito.

Todavia com este último médico há uma evidente melhoria… acabou-se a dieta! O que há duas semanas era veneno agora deixou de o ser.

Palavra de médico.

 

Não gosto de servir de bola de ténis… passa para cá, devolve para lá… Mas deve ser do meu mau feitio, assumo.

Neste dérbi médico verificou-se uma espécie de empate. Definitivamente como não aprecio indecisões, eis-me na busca de outro especialista. Conclusão rápida e quiçá assertiva: isso é coluna! Palavra de médico.

Desta vez com pior prognóstico: tinha de ser operado.

Havia agora uma derrota e por goleada, o que, digamos, não é nada agradável. E muito menos desejável.

 

Vai daqui procurei um velho amigo, que não sendo médico vai endireitando alguns ossos. Após análise do meu problema, pergunta-me:

- Tu não bateste em lado nenhum com o pé?

Fui ao meu disco interno e procurei na memória eventuais episódios. Finalmente respondo:

- Há uns tempos dei uma pantufada numa pedra, lá na aldeia. Porém na altura pouco me doeu…

- Pois… já deves ter percebido que não és de ferro. Desconfio que partiste o pé.

Incrédulo com a revelação, ainda pergunto:

- E nos exames não dava para ver?

Após um breve silêncio, o meu amigo respondeu:

- Provavelmente até dava, mas não era a especialidade deles.

Pronto… batido aos pontos. Palavra de não-médico!

 

 

José da Xã

(blogue LADO A/B)