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Delito de Opinião

Convidado: JOAQUIM A. RODRIGUES

Pedro Correia, 15.11.17

 

Há sempre qualquer coisa

 

Numa das suas mais sublimes canções, José Mário Branco canta: “Há sempre qualquer coisa que está p'ra acontecer, qualquer coisa que eu devia perceber, porquê não sei, porquê não sei, porquê não sei ainda.” A canção chama-se “Inquietação”, e inquietação é o que se sente quando se tenta perceber o que “está p'ra acontecer” no mundo.

 

A crise sistémica global que se seguiu ao estoiro, em Setembro de 2008, do Lehman Brothers deslocou o centro de gravidade do planeta para a Ásia. A classe média asiática acaba de ultrapassar a soma da classe média norte-americana com a europeia.
Estes ganhos e perdas estão a causar sarilhos em todo o lado. As classes médias dos países ascendentes lutam por mais infraestruturas e serviços públicos e as classes médias em perda, no ocidente, protestam contra os cortes e fazem crescer o voto populista e iliberal.
 

 

 

 

Isto é o que tem estado a acontecer desde 2008. Olhemos agora para o que não está a acontecer.

 

Em primeiro lugar, não está a acontecer inflação, como era costume quando os bancos centrais faziam injecções maciças de liquidez. Em segundo lugar, apesar de todas as tensões sociais, políticas e geo-estratégicas causadas pela crise, não houve nenhum fechamento do comércio internacional. O motor mental do livre-comércio e da convertibilidade das moedas permanece pujante.
A globalização e o seu fluxo de pessoas, conhecimento, ideias, mercadorias, capitais, vai prosseguindo imperturbável. Isto apesar do bulício dos micro-nacionalismos que querem desenhar novas fronteiras mas, paradoxalmente, precisam de um mundo sem elas.

 

Por exemplo, as movimentações dos curdos e dos catalães (que fizeram referendos independentistas na mesma semana) só acontecem porque existe o mercado global: os curdos dependem da venda do petróleo de Kirkuk e os catalães necessitam da “independência sem fronteiras” fornecida pela União Europeia e pelo BCE.
 
 
Nota:
Este texto deve muito a "O Fim do Poder", de Moisés Naím,
e a "A Era do Imprevisível", de Joshua Cooper Ramo

 

 

Joaquim Alexandre Rodrigues

(blogue OLHO DE GATO)

4 comentários

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    Luís Lavoura 15.11.2017

    Liberalismo não é liberalismo económico.

    Isso é falso. Por definição, o liberalismo é económico, político, social e cultural. O liberalismo tem que defender a liberdade em todas essas vertentes. Não faz sentido o liberalismo não ser também económico, quando a economia é uma dimensão tão importante da nossa existência.
    Todos os partidos representados na ALDE (a associação europeia de partidos liberais) defendem, em princípio, todas estas liberdades, incluindo a económica - embora alguns desses partidos ponham menos ênfase nalgumas liberdades...
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    Vlad, o Emborcador 15.11.2017

    Isso é verdadeiro. Quando em nome de um suposto liberalismo económico se reduz drasticamente a possibilidade de escolha do consumidor, como resultado de fusões empresariais e o surgimento de Corporações (maiores que os Governos )

    Isso é verdadeiro, quando essas mesmas Corporações ditam as regras políticas. Determinam políticas, e reduzem a liberdade de escolha do eleitor. Antes vivíamos sob a tirania da tradição. Hoje experimentamos a Tirania do "racionalismo " dos Mercados (os mesmos que há bem pouco tempo se opunham à subida do salario mínimo nacional ).

    "O salário mínimo não deveria ter aumentado para 505 euros"

    http://www.sabado.pt/dinheiro/detalhe/bruxelas-lanca-avisos-a-portugal

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    Luís Lavoura 15.11.2017

    Pois, é verdade que é polémico decidir que regulamentações económicas do Estado são ou não são compatíveis com o liberalismo. Alguns liberais (chamemos-lhes "libertários") querem um Estado que não regulamente praticamente nada, outros são muito mais moderados e aceitam regulamentações bastante fortes (de que é exemplo a atual comissária europeia da Concorrência, Margreth Vestager, que pertence ao partido liberal dinamarquês mas tem tido uma atuação bastante agressiva no governo da sua pasta).
    De qualquer forma, todos os liberais concordam que em princípio a liberdade económica é boa para o progresso e que ela é necessária para que haja liberdade em geral, incluindo política.
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