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Delito de Opinião

Convidado: FRANCISCO M. VALADA

Pedro Correia, 02.08.17

 

Susceptibilidades e rigor científico

 

 

Algernon: Nothing annoys people so much as not receiving invitations.

— Oscar Wilde, “The Importance of Being Earnest”

 

De vez em quando, há quem seja paladino do rigor científico, aniquilando-o em simultâneo. Isso aconteceu recentemente num texto do jornalista Daniel Oliveira, acerca das controversas declarações de Gentil Martins:

De outras refregas e escrutínios, é sabido que, por aquelas bandas, por única e exclusiva culpa da direcção do Expressoo rigor tem dias.

Por isso mesmo, não fiquei agradavelmente surpreendido ao ler "susceptíveis", pois adivinhei logo o resto do enredo, com a esperada presença no texto de insuportáveis obscenidades científicas como "correto" (uma espécie de coreto com dois erres) ou "coação" (a lembrar, por exemplo, o agora extremamente ambíguo acto de coar).

Convém deixar temas complexos como o "rigor científico" – em abstracto ou até mesmo em concreto, como nos casos do artigo enquanto subclasse fundamental do determinante  e  da electrodinâmica quântica  – a quem faz da ciência forma de vida.

A simples menção “rigor científico”, num jornal que impôs, aos seus profissionais e leitores, um código cientificamente denunciado na praça pública, é, no mínimo, engraçada.

 

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Lamentavelmente, esta mixórdia é o pão nosso de cada dia – não só no Expresso, mas, de forma geral, em qualquer publicação que se meta nestas aventuras ortográficas, sendo o Diário da República o meu exemplo de eleição, por razões que já expliquei. Todavia, em relação ao Diário da República, o Expresso tem, no mínimo, uma agravante: não foi intimado por ninguém a adoptar o quer que fosse. O Expresso adoptou o Acordo Ortográfico de 1990 porque quis fugir para a frente e o resultado está à vista.

A atitude do Expresso perante o fenómeno ortográfico em curso não serve de exemplo a ninguém. Aliás, a silenciosa e irresponsável resistência do jornal A Bola  também não. Mas não nos dispersemos. Concentremo-nos no mau exemplo do Expresso. Obviamente, em nome do rigor. Efectivamente.

 

Nótula: Há convites irrecusáveis, imediatamente aceites e ainda por cima com todo o gosto. Um deles é o que o Pedro Correia me fez: escrever um texto como convidado especial do DELITO DE OPINIÃO. Está escrito. Obrigado, Pedro.

 

 

Francisco Miguel Valada

(blogue AVENTAR)

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