Convidado: FRANCISCO CARITA MATA
Portalegre, Cidade da Poesia
“Portalegre, porto ou porta / Na encosta, ridente alegria…”, escrevi, há alguns anos, sobre a Cidade de Régio.
E, nem de propósito, “Momentos de Poesia”, evento já com foros de Cidadania, da responsabilidade de Drª Deolinda Milhano, subordina-se no próximo Dia 21 de Março a uma visita guiada e poética sobre as “Portas da Cidade”.
Sendo Portalegre um burgo de raiz medieval, ainda mantém parte da sua estrutura muralhada e algumas das portas que lhe davam acesso, estruturadas sob a forma de arcos de volta inteira, com maiores ou menores alterações epocais.
Cidade de Portalegre, vista do "Passadiço"
Para sabermos se Portalegre é uma Cidade de Poesia, nada como palmilhar as ruas do povoado.
Mas eu atrevia-me a sugerir algo mais inusual… Um passeio, a pé, subindo pela “Estrada da Serra”, até ao miradouro (estrutura que me atrevi a baptizar de “Passadiço”.) Pouco a pouco, contemplando a urbe, o seu enquadramento paisagístico, o seu casco construtivo, não tenho dúvidas de que ali proporciona uma visão muito mais poetizada da sua mole urbana, num soberbo cenário, englobando serra e campina alentejana… Perdendo-se nas lonjuras, quase se confundindo céu e terra. Sempre sem se perder o recorte da Cidade e de alguns dos seus monumentos mais icónicos.
Retornando à Poesia. É sintomático que, na Cidade, logo duas escolas tenham escolhido, como patronos, dois Poetas: Cristóvão Falcão e José Régio. É indubitavelmente uma prova da estima de Portalegre pelos seus Poetas, não querendo esta afirmação dizer que eles são, em contexto natural, devidamente apreciados e lembrados pela sua Poesia. Que não são!
Mas em Portalegre há grupos de resistentes que não esquecem a Poesia. Há “Momentos de Poesia”, evento pioneiro, a que tive o grato prazer de assistir e constatado o trabalho altamente meritório já desenvolvido.
Existe na Cidade um outro grupo, designado “Amigos da Poesia”!
Haverá assim tantas cidades no País, na dimensão e com as características de Portalegre, em que a Poesia seja celebrada regularmente em eventos poéticos?
Não sei, não.
Voltando ao périplo pelas “Portas da Cidade”, irão ser calcorreadas as vetustas ruas, iniciando-se a ronda pela Porta da Devesa, Portas do Crato, ainda existentes; pelas de Elvas e Évora, de que só já resta a memória. Pela de Alegrete, terminando na Porta do Postigo, hoje desestruturada do seu local primitivo e encastrada na antiga muralha, alguns metros mais a sul.
Irei voltar a “Momentos de Poesia”, após a concretização do evento.
E, nem a propósito: porque não institucionalizar “Portalegre como Cidade de Poesia”?
Carvalho negral em Portalegre
Já agora… calcorreando a Cidade. Metem dó, tantos prédios, pelo casco antigo, ameaçando ruína. (Algo tristemente comum a muitas aldeias, vilas e cidades deste nosso Portugal.)
Paralelamente construiu-se, na Rua 1º de Maio, um “business center”, só o nome(!), entaipando-nos, da Cidade, a vista espantosa da Serra da Penha; e a partir do IP2, a visão das muralhas. (E tão perto, quase se esboroando, o prédio da antiga loja do Sr. Hermínio, prestes a implodir!)
E que tanques, aqueles da Corredoura?! Saudosa, a lembrança do antigo lago e do cisne.
Para quando replantar de árvores autóctones, carvalhais, aquele espaço? E umas manchas de amendoeiras, como embelezariam aquelas encostas desprovidas de coberto arbóreo!
Francisco Carita Mata
(blogue AQUÉM TEJO)