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Delito de Opinião

Convidado: FILIPE MOURA

Pedro Correia, 27.10.17

 

O PSD não é social-democrata

 

Na corrida para a liderança do PSD, há uma discussão sobre “ideologia” que me parece colocada em termos equivocados. Parece que há quem ache que o PSD deve voltar a ser “social-democrata”. José Eduardo Martins escreveu mesmo um manifesto contra os “tecnocratas” que têm liderado o partido e conduziram a política do anterior governo.
Ninguém duvida de que o PSD, com Passos Coelho na liderança, foi diferente (mais à direita) do PSD tradicional. Mas nunca no seu passado o PSD foi social-democrata. O partido que em Portugal tem aplicado políticas social-democratas (mais ou menos à esquerda, consoante o líder e o contexto histórico) é o PS. Social-democracia é centro-esquerda, coisa que o PSD nunca foi. O PS oscila entre o centro-esquerda e a tecnocracia. O PSD, entre a tecnocracia e a direita. Durante a liderança de Passos, uma direita assumida e orgulhosa de o ser. Todas as medidas que marcaram o seu mandato tinham um propósito ideológico: diminuir drasticamente a presença do Estado na sociedade portuguesa, através de privatizações e cortes. Não havia “tecnocracia” nenhuma.
Para este equívoco de classificar as políticas do anterior governo como “tecnocráticas” contribui o discurso da “TINA” – “there is no alternative”. O ex-ministro Vítor Gaspar, já como quadro do FMI, chegou mesmo a lamentar que as políticas nacionais interfiram na política económica, que pelos vistos é algo que deve ser reservado a “sábios” e ficar fora do escrutínio democrático. Este discurso pode parecer tecnocrático, mas é uma certa ideologia levada ao extremo. Faz parte das ideologias extremistas considerarem-se “científicas” e portadoras da única “solução correta”. Lembro-me de discutir com um apoiante de Passos Coelho sobre o liberalismo enquanto ideologia. O meu interlocutor não aceitava que o liberalismo fosse classificado como ideologia – considerava-o acima disso.
Não me cabe a mim decidir o futuro do PSD. Apenas aponto, em resumo, dois factos. O que causa a diferença entre este PSD de Passos e o PSD a que estávamos habituados não é a falta de ideologia – é talvez o excesso. O PSD tem de decidir se quer mais ou menos ideologia, mas se optar por mais ideologia não será com certeza para ser parecido com o PS, pelo que talvez devesse mudar de nome.

 

 

Filipe Moura

(blogue ESQUERDA REPUBLICANA)

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