Convidada: VÂNIA CUSTÓDIO
Todas as promessas perdidas
Naquele momento em que tudo se apaga, naquele último sopro de vida que se esvai no peito, o sonho sobrepõe-se à angústia e ao medo que leva ao desespero de desistir? O que leva um adolescente, com tanto para viver, a baixar os braços? Durante muito tempo, não se falava de suicídio na imprensa. Havia um código de ética e deontologia que se arrepiava e acreditava no efeito perverso do comportamento de imitação que podia advir deste tipo de notícias. Hoje o suicídio dos jovens é o tema mais quente do momento, seja pela jogo Baleia Azul ou pela série Por 13 razões, a passar na Netflix.
De repente, somos obrigados a encarar a realidade que foi escondida durante tanto tempo. Alguns não aguentam. E não aguentam o quê? Todos sabemos o quê. Todos passámos por lá. A transição da infância para a idade adulta é um caminho complicado, difícil e angustiante. Não é por acaso que se ouvem notícias de mil estudantes "expulsos" de Espanha das férias de Páscoa. E não, não estamos a misturar temas. A aceitação do grupo é o busílis de tudo. Numa altura em que ainda não sabemos quem somos, sem personalidade verdadeiramente definida, o medo tolda as decisões e pode de facto ser mau conselheiro. Se para sentirmos que há mais quem seja como nós, temos de nos anular em comportamentos de grupo, por que não deixarmo-nos ir? É tão mais fácil quando a nossa própria convicção ainda não encontrou uma linha de pensamento e acção que a mantém segura. Mais ainda quando toda esta angústia se afoga num estado depressivo de quem ainda há tão pouco tempo só conhecia dias felizes.
É tão difícil crescer. O que sente um adolescente que desiste? Quem de nós, por uns minutos que fosse, não chegou a desistir? E o que acontece quando não conseguimos encontrar o tal grupo que consegue levar-nos ao colo, mesmo que à boleia de muitas parvoíces, gargalhadas e algumas experiências limite? O chamado ciclo do animal-noivo, o processo de passagem à vida adulta existe e não pode continuar a ser ignorado. Pais, médicos, familiares e amigos, todos temos um papel importante a desempenhar. E o mais importante de todos talvez seja mesmo o de reconhecer que este é um caminho que tem de ser percorrido. A sós, mas não necessariamente sozinhos.
Quantas vidas e sonhos de libertação desse peso e angústia que a adolescência carrega não teriam sido salvos com apenas uma palavra amiga? Alguém que explicasse o processo e fizesse ver a luz ao fundo do túnel. Estaremos assim tão alheados que já não nos lembramos de como foi?
Vânia Custódio
(blogue CAIXA DOS SEGREDOS)