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Delito de Opinião

Convidada: PSICOGATA

Pedro Correia, 12.06.17

 

Terrorismo psicológico, a pior das guerras

 

Durante anos vivemos apenas com uma imagem da guerra, sabíamos a história, havíamo-la estudado nos livros e visto nos filmes, a Segunda Grande Guerra tem papel de destaque, em Portugal ouvimos, algumas vezes na primeira pessoa, relatos da Guerra de Ultramar, chegaram-nos relatos da Guerra do Golfo, a ameaça da bomba atómica, mas o medo depressa dissipou, a guerra sempre foi algo distante e longínquo, anos e anos de paz psicológica.

Até ao dia em que o mundo parou enquanto assistia atónito ao embate de dois aviões nas torres gémeas: 11 de Setembro de 2001, o dia em que a paz psicológica foi afetada. Seguiram-se os atentados de Madrid a 11 de Março de 2004 e de Londres a 7 de Julho de 2005. Entre estes três acontecimentos, ocorrem diversos, demasiados, atentados revindicados pela organização terrorista al-Qaeda, mas quase todos a uma distância confortável, a uma distância que nos fazia sentir seguros.

 

Com a morte de Osama bin Laden, alegado líder da organização, a nuvem da al-Qaeda dissipou-se, mas para dar lugar a uma série de eventos ainda mais aterrorizadores.

O Velho Continente, tantas vezes palco central da guerra, encontra-se novamente sob a mira do terrorismo, do Daesh, dos Jiahistas, do EI, o nome não é relevante, mas sim o propósito, acabar com a nossa paz.

A Guerra, a Fome, a Miséria que durante anos e anos conhecíamos à distância está agora à nossa porta, de mãos-dadas. Caminham juntas, culpam os migrantes pela guerra, eles não trazem a guerra, a guerra persegue-os.

Será que acordamos tarde de mais do sonho? Efetivamente nunca existiu paz.

Será que estamos a pagar pelo extenso tempo de olhos fechados? Desviamos sempre o olhar para a realidade mais conveniente.

 

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Hoje, é impossível ignorar, a guerra está na Europa, não é um conflito armado com bombas, mísseis e tanques, é uma guerra tácita, uma guerra psicológica imposta pelo terrorismo.

Ataques concertados e cirúrgicos que mais do que matar pessoas em escala, visam matar ideologias e liberdades, o objetivo é assustar-nos, é fazer-nos sentir medo na nossa própria casa.

O terrorismo psicológico é a maior arma do EI e a mais perigosa, é a que tem efeitos maiores a longo prazo, a Europa precipita-se a uma mudança de estratégia, de ideologia, que nos encaminha perigosamente para uma guerra diferente, para uma guerra de extremos, onde não há razão, apenas conflito.

Não deixaremos nós europeus de viver a nossa vida normalmente, é a mensagem que transmitimos.

Mas quem não pensa duas vezes em selecionar um destino de férias hipoteticamente mais seguro?

Quem não olha por cima do ombro enquanto caminha numa grande cidade?

Quem não equaciona deixar de ir a um evento com muitas pessoas?

Mais importante, quem não equaciona estar presente na guerra, fazê-los pagar pelo mal que causam, pagar-lhes na mesma moeda?

 

Demorará quanto tempo a estalar uma guerra interna?

O tempo que os nossos valores persistirem, o tempo que demorarem a ser estilhaçados em pedaços e a serem substituídos por outros nascidos da raiva e do ódio.

Não faltarão oportunistas para apanhar os pedaços e edificar os seus castelos de vãs ilusões grandiosas, de soluções tão irreais como as dos seus inimigos. Tentarão manipular-nos como soldados, peões numa guerra que lutaremos como nossa, mas que é só deles.

O terrorismo pior é o que nos afeta psicologicamente, o que nos faz mudar rotinas por mais pequenas e insignificantes que possam parecer, o que nos transforma lentamente o pensamento, o que nos substitui ideias e valores, o que nos quebra o espírito.

Na guerra o instinto de sobrevivência fala mais alto, mas a guerra só é digna de luta se defendermos o que acreditamos e não o que nos querem fazer acreditar.

 

É nas dificuldades que se mede a resistência do carácter e do espírito, é na resiliência em fazer prevalecer os valores da Europa que demonstramos a nossa força, a nossa certeza e que, em última instância, provamos que somos diferentes porque acreditamos que a diferença nos enriquece e nos torna mais fortes.

A liberdade é a causa mais nobre da humanidade, a única que justifica uma guerra. Continuemos assim todos diferentes, com direitos iguais e, sobretudo, continuemos livres.

 

 

Psicogata

(blogue LÍNGUA AFIADA)

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