Contas.
Já Vasco Pulido Valente tinha aqui referido que "qualquer indivíduo com mais de seis neurónios pode ver que a aventura da selecção portuguesa duplica em miniatura a aventura do défice e da dívida. Primeiro, o silêncio, até cairmos sem remédio no fundo do poço. A seguir, o espanto fingido ou a corajosa afirmação de irresponsabilidade. E, no fim, acusações sobre acusações, para disfarçar o facto de que toda a gente colaborara no desastre. Nós, como Ronaldo, somos manifestamente os “melhores do mundo”. Só que, de quando em quando, nos cai a Alemanha na cabeça ou uma dívida inexplicável, que levará a pagar 30 e tal anos". Eu acrescento algo mais. Depois do desastre, começamos a fazer contas, julgando poder obter o impossível, seja ele a qualificação para os oitavos-de-final ou o pagamento da dívida. Da mesma forma que os partidos do arco da governação, com Cavaco Silva à cabeça, acham que conseguimos reduzir a dívida para 60% do PIB em 2035, bastando para isso, imagine-se obter um saldo primário do PIB de 3% em todos esses anos, na selecção anda-se agora a fazer contas para o apuramento para a fase seguinte.
Essas contas em ambos os casos não passam, porém, de um sonho de uma noite de Verão. No caso da selecção, era preciso que uma equipa de aleijados, cujos jogadores ficam lesionados aos primeiros minutos em campo, fosse golear por 5-0 uma das equipas mais fortes fisicamente deste campeonato. Mas depois ainda era necessário que a Alemanha ganhasse aos EUA, sabendo-se que a tendência natural dessas duas equipas, que ainda por cima têm dois treinadores alemães, vai ser jogar para o empate, que as apura a ambas, e as poupa para a fase seguinte. Dizer que neste caso o apuramento é possível é tão absurdo como dizer que Portugal vai pagar a dívida, sabendo-se que para isso precisa de um saldo primário que nunca foi obtido e que é apenas 10 vezes o esperado para este ano de 2014. Como dizem os brasileiros, caiam na real.