Consequências
Desconhecia até ontem quem era Michael Finkel, quando vi o filme True Story, baseado em factos reais. Não foi tanto a história do filme que me prendeu a atenção, mas sim uma das cenas iniciais que ocorre em 2002, em que Finkel, na altura tido como um jornalista de topo do New York Times, é despedido daquele jornal porque adulterou uma reportagem sobre escravatura infantil na Costa do Marfim. Para quem gosta de bom jornalismo, é reconfortante ver a implacável conversa que a sua editora e, presume-se, o chefe de redacção tiveram com Finkel para o confrontar com o seu erro e imputar-lhe as devidas consequências por ter infligido danos à reputação do jornal, à causa do combate à escravatura infantil e, sobretudo, ao jornalismo de referência. Felizmente, e uma vez que os erros acontecem, seja de forma involuntária ou por má fé, o jornalismo de referência anglo-saxónico tem-se revelado absolutamente impiedoso no "julgamento" destes casos e nas respectivas consequências. Mas, infelizmente, esse escrutínio não tem sido uma prática seguida por outros jornais (ditos de referência) em diferentes países, nomeadamente Portugal. É lamentável como ao longo dos anos, jornalistas e jornais de referência nacionais têm cometido os maiores atentados ao jornalismo sem que alguém seja demitido ou peça desculpa aos leitores. São vários os casos vergonhosos que me vêm memória, mas cujas consequências na defesa do jornal, do jornalismo e do interesse do leitor ainda aguardo para ver.