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Delito de Opinião

Comunismo nunca mais

Rui Rocha, 09.11.14

Vera Lengsfeld nasceu na RDA. Até determinada altura cumpriu as regras. Inscrita na Partido Comunista, fiel à nomenklatura, leal ao pai que era agente da STASI desde o final da guerra. Depois converteu-se ao cristianismo. Uniu-se a um grupo pacifista, ligado à Igreja Luterana, que protestava contra a presença de mísseis nucleares na Europa, incluindo a de mísseis soviéticos na RDA. Foi expulsa do Partido Comunista. Foi constantemente vigiada. Foi presa por curtos períodos várias vezes. Foi afastada das suas funções de professora da Academia de Ciências Socias em Berlim. Em meados da década de oitenta, existia na RDA um agente da STASI por cada sessenta habitantes. Portugal tem hoje, vinte e cinco anos depois, quatro médicos por mil habitantes. Em meados da década de oitenta, cinco por cento do orçamento da RDA era consumido pela STASI. Vera Lengsfeld era vigiada, nessa altura, por sessenta agentes da STASI. Apesar das dificuldades, a vida de Vera continuava. Casou com o matemático Knud Wollenberger. Tiveram dois filhos. Em mil novecentos e oitenta e oito o pai de Vera foi afastado pela STASI. Para se manter na polícia secreta teria de cortar qualquer tipo de relação com a filha. O pai de Vera recusou. Em mil novecentos e noventa e dois Vera e Knud divorciaram-se. Knud tinha sido um dos sessenta membros da STASI encarregado de a vigiar. O primeiro encontro, a relação, o casamento, tinham sido um embuste. Uma forma de a manter sob observação muito próxima. Tão próxima que Knud informava o seu agente de contacto na STASI de cada detalhe da sua vida em comum, dos seus momentos íntimos, das conversas na cama, das chamadas telefónicas, das variações de humor, das alegrias, angústias e tristezas. Mais tarde, quando Knud se encontrava em estado terminal, Vera perdoou-lhe.O muro de Berlim caiu há vinte e cinco anos. Na altura, o Partido Comunista Português, cego a todas as atrocidades cometidas pelos regimes totalitários comunistas, condenou o acontecimento. Vinte e cinco anos depois, o Partido Comunista Português mantém-se do lado errado da história. Depois de tanto tempo, os veados vermelhos das florestas situadas na fronteira entre a então RFA e a Checoslováquia continuam a não atravessar a linha que era dividida por uma vedação eléctrica. O Partido Comunista Português, por seu lado, continua preso à sua cegueira histórica, incapaz de dar um passo no sentido dos princípios da democracia. Perante visões do mundo desta natureza, impõe-se agora, como há vinte e cinco anos, um grito inquestionável pela liberdade: comunismo nunca mais!

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