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Delito de Opinião

Como Vasco via Putin em 2007

Pedro Correia, 26.07.22

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«Com o colapso da URSS ("a maior catástrofe política" do século, segundo Putin) e o súbito sumiço do "socialismo real", a Rússia acabou por puro acaso (ou muito azar) na "democracia": um regime que notoriamente a prejudica. Sempre oscilante entre a inveja do Ocidente e a glorificação do particularismo eslavo, a Rússia voltou agora ao particularismo eslavo. Putin quer criar uma ideologia "patriótica e nacional". Em Agosto, um artigo do Herald Tribune (de Nina Khrushcheva) descrevia essa campanha para reviver a "grandeza" da Rússia. Uma campanha que mete a televisão, a rádio e a imprensa, evidentemente. Mas também banda desenhada, cartazes pelas ruas, poemas no metropolitano e até, como de costume, a literatura oficial. Os militares readquiriram o seu antigo prestígio, os "Pioneiros" foram substituídos pelos "Nashis" e o KGB pela FSB. A tradição resistiu à crise e a Rússia (à custa do petróleo e do gás) renasceu na sua autêntica qualidade de império.

Era inevitável que a Rússia não se resignasse à derrota de 1989-1991; e era inevitável que, uma vez refeita, não ficasse muito diferente do que tinha sido. Ninguém de senso esperava que um Império, com dezenas de religiões, de línguas, de etnias, se tornasse num perfeito exemplo de uma democracia liberal e de um Estado de direito. A questão não é a de saber se a Rússia se vai ou não "ocidentalizar", é a de saber como e quando passará à "reconquista" das "províncias perdidas".»

 

A diferença entre um observador político digno de atenção e um bitaiteiro como tantos que enxameiam as televisões avalia-se neste longo excerto de um texto analítico de Vasco Pulido Valente intitulado "Uma nova Rússia?", impresso no jornal Público a 2 de Setembro de 2007.

Quinze anos antes da actual agressão de Putin à Ucrânia estava já tudo previsto nesta linhas por quem sabia analisar os factos com lucidez, cultura, sagacidade e uma acutilância que nos deixam saudades.

Infelizmente, desde logo, porque restam poucos com o nível dele.

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