Como se tivéssemos nascido ontem
(Imagem: blogue Bic Laranja)
Já nem falo do L dobrado de importação, ironicamente aceite sem pestanejar nesta terra onde o mais disparatado dos convénios autorizou o extermínio corrente das consoantes "mudas" para "aproximar a escrita da fonética". Já nem falo da festa de importação, quando não faltam tradições festivas portuguesas crescentemente votadas ao esquecimento.
Falo de Lisboa, um dos nossos mais belos topónimos, desfigurada a todo o momento ao ser substituída pela tradução em inglês. Não por capricho estrangeiro, mas por decisão local - neste caso com a chancela oficial da Câmara Municipal de Lisboa, através da Junta de Freguesia de Arroios. Como se algum turista, por mais bronco que seja, ignore como se escreve e diz o nome da capital portuguesa, fundada há mais de dois mil anos, quando os habitantes do que viriam a ser os Estados Unidos da América ainda faziam fogo com dois pauzinhos.
Um nome de ancestrais ressonâncias helénicas que a cada passo pervertemos sem o menor traço de amor-próprio, nesta nossa forma tão pacóvia de abdicarmos de um idioma falado por mais de 250 milhões de pessoas no mundo enquanto entoamos loas à "lusofonia" por mera conveniência política de ocasião.
Falar e escrever "estrangeiro" é o desporto preferido dos basbaques cá do burgo. Que traduziam Portugal em francês no tempo do Eça e hoje o traduzem em inglês com sotaque americano.
Como se tivéssemos nascido ontem. Como se não tivéssemos uma língua e uma cultura dignas de nos orgulhar a todo o tempo.