Comer (14)
Risoto de citrinos com coelho
Desta vez apeteceu-me coelho. Mas encontro cada vez menos esta carne, outrora abundante entre nós. Rica em proteínas, com baixo teor de gorduras, é nutritiva e fácil de digerir.
Mas nada fácil de encontrar cá na cidade.
Tive de encomendar no talho. Dizem-me: está a desaparecer devido às pressões animalistas. Vêem os coelhinhos como peluches, coisas fofas. Há mesmo quem considere que comer coelho equivale a comer cão. Em casos extremos, protestam por parecer «quase canibalismo».
Enfim, os chalupas ganham terreno em todas as frentes. Na frente alimentar também.
Pedi para me cortarem o coelho em pedaços. Usei metade, o resto rumou ao congelador. Para consumir noutro fim-de-semana.
Num tacho largo, preparei o refogado: fio de azeite, meia cebola picada, folha de louro, malagueta sem sementes. Adicionei o coelho. Depois, meio copo de vinho tinto. Enquanto noutro tacho a água fervia.
Chega o momento de verter uma chávena do arroz apropriado para esta receita, de origem italiana. Segue-se uma colher de sopa de manteiga. Junto uma pitada de açafrão. Misturo. Rego com parte da água quente, em pequenas doses, e vou mexendo sempre para não colar ao fundo. Vai ficando numa textura cremosa.
Convém redobrar a paciência nesta fase: é por uma boa causa.
Daí a cerca de dez minutos apago o lume. Envolvendo tudo num generoso pedaço de queijo parmesão a que junto rodelas de lima e dois ou três gomos de laranja, já que estamos no tempo delas. Sem esquecer umas folhas de salsa - embora o manjericão seja mais recomendável.
Interessante, o contraste dos sabores.
Abro uma garrafa de Defesa (2021) - da Herdade do Esporão, castas Touriga Nacional e Syrah. Custou-me 4 euros numa loja cá do bairro.
Soube-me o melhor possível. Belo almoço de Inverno, enquanto a chuva teima em cair pelo terceiro mês consecutivo. Na televisão, o noticiário do costume menciona casos de "seca severa" e até "seca extrema". É em Portugal, mas sinto que me fala dum país distante.