Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Delito de Opinião

Comer (13)

Tagliatelle com cogumelos

Pedro Correia, 04.11.23

tagliatelle.jpg

 

Houve um tempo em que não apreciava muito massas. Refiro-me às que se comem, não às tenebrosas maquias "capitalistas" que fazem espumar de raiva a doutora Mortágua. Como se ela vivesse de ar e vento. Como se nos países que lhe servem de referência as pessoas optassem por trocas directas, dispensando o dinheiro.

O nosso gosto vai evoluindo com o decorrer do tempo. Hoje aprecio muito alimentos que detestava em miúdo - do tomate às favas, passando pelo peixe em geral. Educamos o paladar, é certo. E se por um lado nos mantemos fiéis à chamada "comida da avó", não é menos certo que ao rasgarmos horizontes, nas diversas fases da nossa vida adulta, isso também nos faz mudar no campo alimentar.

Foi no Oriente que alterei a minha anterior indiferença a massas. Os chineses do sul comem-nas a toda a hora, de dia e de noite, em casa ou na rua. Massa de arroz, muito fina. Com pedaços de ovo, rebentos de bambu, fios de vegetais de todo o género. Com molho de soja e algum picante, para quem aprecie. 

Durante anos, algumas das minhas ceias em horário pós-laboral eram estas massinhas, a que chamávamos chau min para não complicar - à letra, massa frita. Concorrente directa do chau fan, arroz frito. Nas breves semanas de Inverno em Macau, o sólido passava a líquido, comia-se a massa em canja com pedacinhos de frango. Sabia bem.

 

Pensei nisto há dias, enquanto cozinhava aquela que é agora uma das minhas massas favoritas - tagliatelle. Fresca, de preferência. Bastam cinco ou seis minutos ao lume para ficar como deve, al dente. Era o que me apetecia, faltava ver o que havia em casa para cozinhar com ela. Cogumelos, claro: nunca faltam na despensa. E molho de tomate. Estava o repasto garantido.

Enquanto a massa cozia, verti um fio de azeite numa frigideira, uma colher de margarina vegetal, meia cebola e um alho picado. Mal estes alouravam, adicionei os cogumelos laminados - se forem de duas qualidades diferentes, complementando-se, tanto melhor. Fui mexendo. A chama estava alta, refresquei com um pequeno copo de vinho branco, deixei evaporar.

Já o molho fervia quando o reforcei com quatro ou cinco colheres de molho de tomate. Baixei o lume, aguardei cerca de cinco minutos. Antes de apagar, envolvi a massa noutra colher de margarina (pode ser manteiga, claro). 

Polvilhei com doses generosas de queijo - parmesão ou pecorino, tanto faz - e salsa fresca, por me faltar manjericão. Soube muito bem. E despertou-me saudades, já não de Macau mas de Itália. Como eu gostaria de andar por lá agora.

14 comentários

Comentar post