Comer (12)
Arroz selvagem com espargos, tomate-cereja e ovos
Longe vai o tempo em que comia quase sempre fora. Isso mudou, aliás antes da pandemia. Agora tornou-se raro o dia em que não cozinho. É uma actividade que cultivo, aprecio e recomendo - começando, aliás, na lista de compras já a pensar nas ementas.
Como salientei no primeiro texto desta série, houve mudanças a outro nível. Sou hoje muito mais exigente naquilo que consumo à mesa. Bani quase por completo os fritos da minha alimentação diária e reduzi a carne à expressão ínfima. Adoro peixe, mas também fui reduzindo - neste caso sobretudo pelo preço, que se tornou proibitivo. Uma recente ida ao mercado, aliás quase vazio, deixou-me com certezas reforçadas nesta matéria. Não apenas no peixe, mas nos legumes: por um molho de espargos pediram-me o triplo do preço que costumo pagar no supermercado.
Vade retro, especuladores. Depois são os primeiros a debitar lamúrias perante as câmaras de televisão...
Partilho convosco um dos pratos de que mais gosto: todas as semanas o faço. Alterando uma vez por outra os ingredientes, mas sempre com a mesma base: arroz selvagem - rico em fibras, vegetais e anti-oxidantes.
Exige três focos de atenção. Por um lado, o arroz vai cozendo, demorando um pouco mais do que o arroz tradicional: cerca de 20 minutos. Por outro, escaldamos espargos, devidamente cortados e despojados da base mais rija: cerca de quatro minutos bastam. Finalmente, numa frigideira, vamos salteando em azeite e louro uma curgete partida em pedaços. Quando estiverem dourados, dão lugar aos espargos, repetindo-se o processo.
À parte, numa tigela, depositamos fatias de queijo mozzarella (o vulgar queijo fresco também serve) com tomates-cereja cortados em metades. Tudo bem misturado e temperado. Com orégãos, um fio de azeite, algumas gotas de vinagre balsâmico e uma colher de sobremesa de pesto: tenho usado pesto alla calabrese, pelo seu inconfundível travo picante.
Entretanto o arroz cozeu e respirou durante alguns minutos antes de rumar à travessa. Vai servir de leito aos pedaços de curgete, aos espargos, ao queijo e ao tomate. Falta revolver tudo noutra colher de pesto. E escalfar dois ovos, que seguirão o mesmo rumo, cada qual de sua vez. Ficam no topo da travessa, juntamente com sementes de sésamo ou miolo de caju. Além das cabeças dos espargos, só para enfeite.
Fácil, rápido, nutritivo e saboroso. Daí eu repetir tantas vezes este prato. Que não encontro em nenhuma ementa de restaurante. Nem sinto essa necessidade.
Para quê procurar fora aquilo que tenho em casa?