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Delito de Opinião

Combate ao lugar-comum

Pedro Correia, 08.05.14

 

Em jornalismo, muitas vezes, a melhor regra é não haver regra. Voltei a pensar nisto há dias, depois de ler na imprensa um chorrilho de confrangedores lugares-comuns a propósito da recente morte de Gabriel García Márquez. Parecia um concurso de clichês, qual deles o pior.

Até que peguei na revista Veja, que raras vezes me decepciona. E leio enfim um obituário imaginativo sobre o grande escritor colombiano. Que começa assim:

«Passados muitos anos, diante da notícia da morte do escritor, seus leitores haveriam de recordar o dia em que Gabriel García Márquez os levou a Macondo e os apresentou aos Buendía, uma estirpe trágica condenada a 100 anos de solidão, e cujos membros eram propensos aos mais estranhos fins - um ancião da família fundiu-se à vegetação do quintal, uma moça reclusa em um convento fugiu voando, alçada por borboletas, um bebê com rabinho de porco foi carregado por formigas.»

Brilhante paráfrase, afinal, do parágrafo de abertura de Cem Anos de Solidão. Uma fórmula imaginativa a que chegaram os autores da prosa, Jerônimo Teixeira e Rinaldo Gama. Numa lógica de combate ao lugar-comum.

Confirma-se: a melhor regra é não haver regra alguma.

 

Texto publicado inicialmente aqui

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