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Delito de Opinião

Com a condecoração chegam as medalhas

Sérgio de Almeida Correia, 15.09.23

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(foto daqui)

Depois da recente visita a Portugal, da condecoração com a Ordem do Infante, e das juras de amor no Dez de Junho à "lealdade e empenho dos portugueses", estava na hora de uma vez mais se demonstrar o apego à secular amizade e a tanta ternura.

Não havendo dúvidas de que a Declaração Conjunta e a Lei Básica continuam a ser exemplarmente cumpridas, pese embora de quando em vez apareça um ou outro pé descalço que se põe a cantar na rua e coloca em risco a segurança nacional, merecendo por isso adequado tratamento, a equiparação dos portugueses que queiram viver e trabalhar em Macau às trabalhadoras domésticas e ao pessoal que faz segurança nos casinos é um bom sinal de que a integração na mãe-pátria segue a todo o vapor e ninguém é discriminado.

É claro que isso acaba por dar algum trabalho ao Cônsul-Geral, mas pode ser que agora, com a injecção de sangue novo no Conselho Consultivo do Consulado e na Fundação da Escola Portuguesa de Macau, tudo possa ser feito com patriotismo e o devido cuidado. Tirar a Escola do local onde está e, finalmente, fazer render aquele terreno parece-me uma hipótese capaz de desbloquear estes pequenos milandos e dar novo fôlego ao ensino do português e à presença lusa no Oriente. 

É evidente que não há aqui nenhum problema de bipolaridade. Nem se trata de haver um discurso para os amigos de Belém e São Bento ao mesmo tempo que se vão dando, assim como quem não quer a coisa, umas caneladas por debaixo da mesa no momento dos brindes.

Não custa perceber que quem se colocou de cócoras, a ver se apanhava as migalhas e umas cerejas que caiam da mesa, ao fim de algum tempo, com os músculos doridos, tenha mais dificuldade em levantar-se, havendo sempre o risco, ao tentar fazê-lo, de levar com um piparote dos outros que tendo chegado mais tarde estejam a tentar ajeitar-se ao lado. Ou que uma pequena brisa deixada pelo último tufão, a quem está nesse estado depauperado, seja o suficiente para lhe fazer perder o equilíbrio e ficar a fazer figura de panda para os comensais.  

Não se vê nada disto em França, no Canadá, na Austrália, no Brasil, no Chile, em Cabo Verde ou no Luxemburgo, que ainda há dias levou 9-0 na bola e teria fortes razões de queixa, por exemplo, mas não é por isso que a música e o baile não devem continuar.

Desde que não seja na rua, obviamente.

Isso seria muito mau para os que já não conhecem outra posição a seguir à de cócoras que não seja de gatas, mas também para a segurança nacional e para os lucros de alguns elefantes que não obstante a vetustez e a obesidade continuam a deambular por aí à procura dos frutos da Dillenia indica como se tivessem acabado de chegar. Tudo causas nobres e que dignificam uma secular relação de amizade.

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