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Delito de Opinião

Clássicos para a Prainha (VII)

Bandeira, 26.05.15

Plutarco: Vida de Sólon (Vidas Paralelas)

 

Há unsSolon.JPG 2600 anos (tanto assim? Como o tempo passa), já havia em Atenas sérios problemas de endividamento. Flagelados por um sem-número de contrariedades, muitos cidadãos não conseguiam pagar luxos como cereais e coisas assim, e viam-se reduzidos pelos seus credores à condição de escravos.

Temendo os episódios sanguinolentos e, sobretudo, as competições de lira que sempre acompanhavam os períodos de ruptura na Grécia antiga, os atenienses, pobres como ricos, concordaram em pedir a Sólon (um dos sete sábios da antiguidade – à data ele ainda não havia ganho o concurso, mas os conterrâneos tiveram olho) para reformar as leis da cidade e restaurar a periclitante paz social.

Sólon aceitou, mas impôs letras pequeninas: por um período de dez anos, nem um iota das suas leis poderia ser alterado sem que antes lhe fosse solicitado um parecer. Os atenienses acolheram a cláusula com um encolher de ombros (o parecer era de graça, hoje isso não aconteceria) e pelas costas riram-se muito e disseram que ele era um narigudo picuinhas, mas com carinho.


O legislador pôs mãos à obra e substituiu a maior parte das leis de Draco, que condenavam um grego à morte por cortar uma unha, mesmo que fosse sua, por outras menos, enfim, draconianas. Criou novas classes de censo baseadas na capacidade de produção agrícola e já não no nascimento; proibiu a escravidão por dívidas; por fim (a inovação foi aqui, preste atenção a este precedente histórico), anulou todas as dívidas existentes à data – quem devia alguma coisa ficou a dever coisa nenhuma.

Os cidadãos escravizados foram libertados e ficaram contentes. As grandes famílias da aristocracia perderam privilégios e ficaram possessas. Os pobres queriam mais direitos políticos e ficaram chateados. Os ricos ficaram um pouco menos ricos – e furiosos.

Então Sólon desligou o telemóvel e viajou para parte incerta por um período de dez anos.

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