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Tememos o desconhecido. Será talvez o mais primário e genuíno de todos os medos. O cinema tende a apresentá-lo sob duas formas distintas. Por um lado, algo cuja existência não sabemos explicar. Acontecimentos ou entidades que violam as mais elementares leis naturais e que, por conseguinte, não podemos compreender. O paranormal tem aqui as suas raízes. Por outro lado, existe uma faceta mais simples do horror pelo desconhecido: uma ameaça bem identificada, terrena e vulgar, mas a incapacidade de a ver quando sabemos que se aproxima provoca uma ansiedade irrefreável. É com base neste princípio que, em Jaws, Steven Spielberg demora mais de uma hora e vinte minutos a mostrar o tubarão na íntegra, gerando medo com base na mera sugestão da criatura e não mediante a sua imagem. El Orfanato deita mão às duas fórmulas. O paranormal mal se vê, mas é fortemente sugerido, uma sugestão que cresce à medida que o enredo se desenvolve. E como em qualquer bom filme, as conclusões ficam para o final e são pouco previsíveis.
Laura (Belén Rueda) regressa ao orfanato onde cresceu. Com ela vai o marido, Carlos (Fernando Cayo), e o filho ainda criança, Simón (Roger Príncip). Mudam-se para a velha casa junto ao mar com o intuito de abrir uma pequena residência para crianças com deficiência. Pouco tempo depois de se instalarem, Simón desaparece. Laura empreende então uma série de jogos, seguindo pistas enigmáticas com vista a encontrar o filho.
A partir deste momento, Guillermo del Toro, produtor-executivo e padrinho do filme, torna-se omnipresente. Sem desprimor para o realizador, Juan Antonio Bayona, del Toro sequestra a fita. Tal como em El Labertinto del Fauno, longa-metragem que vimos aqui no Cine-Espanha na semana passada, as referências aos contos de fadas e às histórias infantis constituem a rede que suporta toda a narrativa. E tal como em El Laberinto del Fauno, esta é uma história onde, segundo o próprio Guillermo del Toro, a vontade de acreditar acaba por definir o curso da realidade.
A realização e a banda sonora são partes indissociáveis da trama. Na boa tradição do duo Alfred Hitchcock-Bernard Herrmann, os planos de câmara, a montagem e a música unem-se em El Orfanato para gerir de maneira exímia as percepções e as expectativas da audiência.
El Orfanato é a todos os títulos um filme notável e explica porque razão La Torre del Suso, igualmente em concurso na 22ª edição dos Goya e um filme do qual já falámos aqui no DELITO, não teve grande espaço para arrecadar galardões. Apesar de não ter vencido o Goya de Melhor Filme, El Orfanato foi a longa-metragem que mais prémios recebeu nos Goya de 2008. Com tanto de assustador como de magnífico, El Orfanato é um filme a não perder.
Curiosidades:
Realizador: Juan Antonio Bayona
Elenco: Belén Rueda, Fernando Cayo, Roger Príncep, Maribel Rivera, Geraldine Chaplin
Ano: 2007
Prémios Goya: 14 nomeações na 22ª edição dos prémios Goya (2008). Venceu em 6 categorias – Melhor Realizador Revelação, Melhor Guião Original, Melhor Direcção de Produção, Melhor Direcção Artística, Melhor Maquilhagem e Melhor Som.
Ficou a faltar o Goya para Melhor Filme, que foi para La Soledad (2007, de Jaime Rosales). Belén Rueda poderia ter vencido o Goya para Melhor Actriz Protagonista, mas foi Maribel Verdú a levar a estatueta – a actriz fez também parte do elenco de El Laberinto del Fauno e, como se vê na caixa de comentários do post sobre esse filme, Maribel Verdú conta com grandes admiradores aqui no DELITO.
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