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Delito de Opinião

Cine-Espanha (3) - La Torre de Suso

Diogo Noivo, 01.03.16

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Após dez anos de emigração na Argentina, Cundo (Javier Cámara) regressa às Astúrias para assistir às cerimónias fúnebres de Suso, o seu melhor amigo de infância, morto por overdose. A ideia de Cundo é simples: visitar os pais, embriagar-se com os amigos, alardear o êxito que obteve no seu país de acolhimento e regressar a Buenos Aires o quanto antes.

É então que o acaso e as vicissitudes da vida entram em jogo. Por um lado, torna-se evidente que a vida na emigração não foi meiga. A bazófia de Cundo não é mais do que um artifício que pretende mascarar a vergonha do insucesso. Por outro lado, percebe-se que 10 anos é muito tempo. A vida na aldeia alterou-se de forma dramática, em grande medida porque a actividade mineira que sustentava aquela localidade desapareceu por força das mudanças vividas na economia espanhola. Os amigos que ficaram seguiram a sua vida. O protagonista fica então prisioneiro da vergonha face a um mundo que abandonou e que é irreconhecível aos seus olhos.

O enredo desenlaça-se quando Cundo e os seus amigos de infância decidem cumprir a última vontade de Suso: construir uma torre que permita “verlo todo desde arriba”. Esta torre é o elemento que permite explorar as tensões latentes nas amizades duradouras, a passagem do tempo, a distância física e emocional e, por fim, dá o mote para um final optimista.

 

La Torre de Suso é uma história sobre a amizade e o tempo. É um filme simples e despretensioso, mas consegue ser bem-sucedido por adoptar com naturalidade uma fórmula que oscila entre a comédia e o drama. Aliás, é o compromisso entre esses dois géneros que, na minha opinião, permite ao filme ser eficaz.

Foi a primeira longa-metragem de Tom Fernández, antigo guionista da sitcom 7 vidas, emitida pelo canal de televisão Telecinco entre 1999 e 2006. A influência das historietas televisivas de costumes nota-se em alguns diálogos e na selecção dos actores e, porventura, afecte aqui e ali a qualidade do filme. Não é a melhor interpretação de Javier Cámara (mais conhecido em Portugal pela sua participação em Hable con Ella, de Pedro Almodóvar), mas é mais do que suficiente para demonstrar o porquê deste actor ser dos mais notáveis do panorama cinematográfico e televisivo em Espanha. Não sendo um filme excepcional, o humor, a ironia, a ode à amizade e a capacidade de identificar motivos para sorrir em contextos de dor fazem de La Torre de Suso um filme que vale a pena.

 

Realizador: Tom Fernández

Elenco: Javier Cámara, Malena Altério, Gonzalo de Castro, José Luis Alcobendas, César Vea

Ano: 2007

Prémios Goya: 3 nomeações na 22ª edição dos prémios Goya (2008) – Melhor Realizador Revelação, Melhor Actor Secundário e Melhor Actor Revelação. Não obteve qualquer galardão.

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