Cine-Espanha (1) - La Isla Mínima
La Isla Mínima foi uma das grandes apostas do festival de cinema de San Sebastián e a grande vencedora dos prémios Goya de 2015. No entanto, o filme prometia pouco.
O enredo é básico e está estafado: dois polícias atormentados investigam um assassino em série. A crítica baixava ainda mais as expectativas ao descrever o filme como uma “adaptação” ao grande ecrã e à realidade espanhola da série norte-americana True Detective – os menos polidos falavam até em “cópia descarada”. O ruído provocado pelas semelhanças levou o realizador Alberto Rodríguez a esclarecer – com notória irritação – que nunca viu a série protagonizada por Matthew McConaughey e Woody Harrelson e, por isso, as comparações eram mal-intencionadas. Esclarecimentos à parte, o ambiente, a dinâmica entre os dois personagens, a crueldade dos crimes e a época retratada em La Isla Mínima tornam impossível não estabelecer paralelos entre o filme e a saga policial da cadeia televisiva HBO.
Contudo, a crítica inicial não prejudicou o filme. Ajudou-o. Fez com que um filme bom fosse também uma surpresa muito agradável. Com as margens do Guadalquivir em pano de fundo – tão presentes que acabam por assumir o estatuto de personagem – e ambientado em plena Transición, o filme adquire uma identidade própria e sobressai pela qualidade das interpretações, pelo rigor da recreação cénica e política da Andaluzia pós-franquista e, principalmente, por pegar num argumento simples e impor-lhe um ritmo que agarra o espectador do princípio ao fim. Outro aspecto digno de registo, que muito contribui para a identidade própria do filme, é a influência discreta do contexto social espanhol da década de 1980 na composição dos personagens, especialmente dos criminosos e das vítimas. A fotografia é exemplar e presta uma justa homenagem ao trabalho de Atín Aya, mestre do fotojornalismo espanhol, recordado no El Confidencial como o fotógrafo “en blanco y negro en un país que no conseguía coger color”.
Depois de 7 Vírgenes (2005), de After (2009) e de Grupo 7 (2012), La Isla Mínima consagra o cineasta sevilhano Alberto Rodríguez como um realizador obrigatório do cinema espanhol.
Realizador: Alberto Rodríguez
Ano: 2014
Elenco: Javier Gutiérrez, Raúl Arévalo, Antonio de la Torre, Jesús Castro, Nerea Barros.
Prémios Goya: 17 nomeações na 29ª edição dos prémios Goya (2015). Venceu em 10 categorias, entre as quais Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Fotografia e Melhor Guião Original. É o terceiro filme com mais galardões na história dos Goya, lugar partilhado ex aequo com Blancanieves (2013).
NOTA: No dia 6 deste mês foram entregues os galardões da 30ª edição dos Prémios Goya, os Óscares do cinema espanhol. Aproveito a ocasião para iniciar uma série de posts sobre filmes nomeados. Não seguirei qualquer ordem. Bons ou maus, escreverei apenas sobre aqueles que vi.