Cem Prémios Nobel justamente atribuídos (17)
1918, Prémio Nobel da Química
Fritz Haber, «pela síntese de amónia a partir dos seus elementos».
Haber será uma das figuras mais complicadas na história da ciência. O seu trabalho na síntese de amónia foi fundamental para a produção em massa de fertilizantes, os quais dependiam imenso de guano (essencialmente os depósitos de excrementos de pássaros e morcegos), ricos em compostos de azoto e que eram extraídos de locais onde as aves faziam os seus ninhos. O processo, que recebeu o nome de Processo de Haber (ou de Haber-Bosch, para incluir o seu colaborador Carl Bosch) terá salvo da fome milhões de pessoas.
Infelizmente o processo Haber também ajudou os alemães a obter amónia para produzir os explosivos necessários e, pior ainda, Haber foi o principal responsável pelo desenvolvimento das armas químicas usadas pelos alemães durante a I Guerra Mundial. Haber era um entusiástico apoiante de armas química,s dizendo que «morte é morte» e defendia o seu trabalho neste campo dizendo que um «cientista pertence ao mundo em paz, mas ao seu país em guerra». Após a I Guerra Mundial, o instituto de Haber desenvolveu ainda a formulação do gás de cianeto Zyklon A, que foi usado no extermínio de judeus. Isto assume contornos ainda mais grotescos por Haber ter sido um judeu convertido a cristianismo, tal como as suas duas mulheres.
Pensar em Haber é pensar num homem cujo trabalho beneficiou milhões e causou a morte de milhares. Num homem que fazia avançar a ciência mas a subordinava aos caprichos do estado. Num homem que casou com a primeira mulher alemã a obter um doutoramento (igualmente em Química) e que era uma pacifista mas depois a condenou a uma existência doméstica enquanto ele seguia entusiasticamente para a guerra.