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Delito de Opinião

Capas que fazem tremer diáconos

Pedro Correia, 04.03.21

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Vejo as capas de ontem dos dois mais prestigiados diários brasileiros, aqui reproduzidas, e questiono-me o que dirão delas os diáconos de lá ao depararem com manchetes dedicadas à tragédia do Covid-19: «No maior salto da pandemia, país perde 1.726 em 24 horas», titula bombasticamente a respeitável Folha de S. Paulo. «País tem recorde de mortos e SP [São Paulo] deve entrar em fase vermelha», escreve com estrondo o conspícuo O Estado de S. Paulo

Como os diáconos costumam alinhar pelas mesmas cartilhas, dirão certamente algo muito semelhante ao que já afirmou o nosso Diácono Remédios em recente carta aberta no Público. Coisas como esta: «Não podemos aceitar o apontar incessante de culpados, os libelos acusatórios contra responsáveis do Governo.» Ou esta: «Não podemos aceitar a ladainha dos números de infetados [sic] e mortos que acaba por os banalizar.»

A propósito disto, aproveitei para me actualizar consultando os dados divulgados pela Organização Mundial de Saúde referentes a Estados com mais de um milhão de habitantes. Portugal, infelizmente, é o quinto com mais casos do novo coronavírus e o sexto com mais óbitos à escala planetária. O Brasil surge em 25.º na primeira estatística e em 22.º na segunda. Por mal que eles estejam, e estão, em termos proporcionais estamos pior. Porque a população do Brasil é 20 vezes superior à portuguesa.

Razão suficiente - e acrescida - para continuarmos a fazer cá o que a Folha e o Estadão fazem, com a competência que lhes é reconhecida.

3 comentários

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    Costa 04.03.2021

    Incutir medo para governar sem oposição, sem dúvida, o que é meio e objectivo de sucesso fácil, atendendo ao povo que somos. Isso e esconder descaradamente uma verdade gritante (e que não o deixa de ser, por ser esta doença coisa nova e de muito rápido alastramento, nem põe nem causa o continuado e inestimável esforço de tantos - que em qualquer caso não creio que venham a integrar os condecorados num futuro 10 de Julho -; factos que não se discutem): décadas de má gestão do SNS e sua incapacidade de enfrentar o imprevisto. Aliás, já com o previsto é o que se sabe. Ano após ano.

    A receita está testada e funciona: sempre que necessário forçar-se-á o país a adaptar-se ao SNS. Aquele a servir este. Rebentar a economia (que sempre sofreria e muito, também não se contesta isso; aliás que me recorde só mesmo a sra. ministra da agricultura via inicialmente, nesta pandemia, uma oportunidade a aproveitar) e culpabilizar reiteradamente o cidadão, é o caminho.

    Melhor, é uma benção ideológica: um povo economicamente ainda mais na mão do estado, conformado na sua miséria; um estado liberto (liberto de facto e sem contestação minimamente séria) do respeito pelo devido processo a seguir na limitação de liberdades ou direitos elementares; um povo amedrontado e submisso perante uma elite, uma vanguarda, de líderes incontestáveis, mentes esclarecidas, quase heróicos, e o pretexto para fazer renascer o sonho de pôr ricos a pagar crises, são coisas que se enquadram perfeitamente no pensamento de quem nos pastoreia e de quem com com maior ou menor entusiasmo os continua a apoiar. Venha a bazuca.

    Costa
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    Anónimo 04.03.2021

    décadas de má gestão do SNS e sua incapacidade de enfrentar o imprevisto

    Se esse fosse o cerne da questão, então só em Portugal é que se incutiria o pânico social.

    Na verdade, o que se verifica é que o pânico e medidas draconianas se verificaram em muitíssimos países do mundo - incluindo em muitos que, supostamente, têm excelentes serviços de saúde, em muitos casos de gestão privada.

    Portanto, isto nada tem a ver nem com o SNS português, nem com a sua alegada má gestão. Países como a Suíça ou a Nova Zelândia foram tão draconianos como Portugal, e tiveram tanto pânico social como Portugal.
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