"Cancelamentos culturais" na América (5)
«Gary Garrels era considerado um dos mais qualificados curadores de museus dos EUA. Era, mas já não é. Saiu de cena, vítima de um linchamento moral. Sem presunção de inocência. Vítima de uma onda de histeria que tem feito rolar várias cabeças.
Aconteceu em Julho de 2020, quando exercia funções de curador de pintura e escultura no Museu de Arte Moderna de São Francisco (SFMOMA). Eram os duros tempos da pandemia, que provocaram um rombo na instituição: cerca de um terço dos trabalhadores ficaram em lay-off ou com horário reduzido. Numa reunião geral com os funcionários por teleconferência para definir os protocolos sanitários, Garrels inflamou as teses anti-racistas mais radicais ao concluir a sua intervenção com esta frase: "Não deixaremos de angariar obras de arte de homens brancos." O contrário, sustentou, seria cair numa "discriminação inversa".
Bastou para acender o rastilho. Emergiu uma petição, com 304 assinaturas, a exigir que fosse exonerado. Por ter usado "linguagem racista" própria de "supremacista branco", o que o tornava "claramente inadequado para desenvolver a agenda de inclusão e equidade" delineada para o SFMOMA.»
Do meu livro TUDO É TABU (Guerra & Paz, 2024), p. 108