Calma, rotineira e previsível
Expresso, 18 de Setembro de 2019
Lembram-se de um tal Pete Buttigieg, o candidato a quem o Expresso designava há um mês como «o homem na frente da corrida» para derrotar Trump nas presidenciais de Novembro? Abandonou a corrida, renunciando àquele objectivo que parecia ter entusiasmado também o Observador.
Novidades, na corrida eleitoral americana, são nulas: restam três septuagenários com hipóteses de vitória para a Casa Branca, daqui a oito meses. No campo republicano, Donald Trump (73 anos) impera sem rival à vista. Entre os democratas, o combate reduz-se ao ex-vice-presidente Joe Biden (77 anos) e ao senador Bernie Sanders (78 anos). Um centrista e um esquerdista, cada qual com as suas falanges de apoio. Mais compactas as de Biden, após a vitória eleitoral de ontem em nove dos 13 Estados que foram a votos nas primária de ontem - a chamada Super Terça-Feira: Alabama, Arkansas, Carolina do Norte, Massachusetts, Minnesota, Oklahoma, Tennessee, Texas e Virgínia.
O troféu mais cobiçado de todos estes era o do Texas, segundo Estado a designar maior número de representantes à convenção democrata: 228, num total de 1.991.
Sanders - que tem incontáveis admiradores em Portugal, designadamente o social-democrata Pacheco Pereira - venceu só em quatro Estados: Califórnia, Colorado, Utah e o Vermont, que o elege desde 2006 como senador. A sua maior proeza foi, sem dúvida, o primeiro lugar na corrida pelo domínio da Califórnia, a maior parcela estadual do território norte-americano, que designa 415 delegados à convenção democrata.
No conjunto dos sufrágios de ontem, estavam em jogo 1.357 delegados no mapa político que agora foi a votos, representando 28% do total de Estados.
A senadora Elizabeth Warren - que o Expresso, antes de exibir o fugaz entusiasmo pelo tal Buttigieg, elegia para a fogosa capa da sua revista de 28 de Setembro de 2019, sob o título «Ela pode derrotar Trump» - é a grande derrotada desta Super Terça-Feira: não venceu em lado algum e ficou abaixo dos 15% na maior parte dos Estados.
O facto de também ela pertencer à ala mais conotada com a esquerda entre os democratas parece não lhe ter dado qualquer vantagem competitiva com Sanders.
Falta acrescentar que o milionário Mike Bloomberg, que alguns chegaram a imaginar como temível competidor no campo democrata, mesmo correndo fora das tradicionais correntes do partido, falhou igualmente em quase toda a linha, apesar de ter investido mais de 500 milhões de dólares em propaganda eleitoral: restou-lhe, como modesto prémio de consolação, um triunfo na Samoa Americana, minúsculo território no Pacífico Sul, com apenas 55 mil habitantes.
O que vai seguir-se? Muito provavelmente, a repetição do já sucedido há quatro anos: Trump enfrentará nas urnas, em Novembro, o mais moderado dos opositores.
Proporciona pouca vibração jornalística, comprendo. E transmite uma maçadora sensação de déjà vu. Mas a vida é assim mesmo, na maior parte das vezes: calma, rotineira e previsível.