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Delito de Opinião

Calma e ponderação

Cristina Torrão, 04.01.22

Sei que vou de novo provocar a ira de comentadores habituais do Delito. Mas não me importo. O problema é deles, não é meu. Penso pela minha própria cabeça, tenho os meus princípios e as minhas convicções e não prescindo deles para agradar seja a quem for.

Depois do debate de ontem entre Rui Rio e André Ventura (que não vi, mas baseio-me no artigo aqui linkado), o secretário-geral adjunto do PS, José Luís Carneiro, acusou o líder do PSD de ceder ao populismo ao “negociar em direto e ao vivo” com o líder do partido Chega, André Ventura, admitindo até “ceder na proibição da prisão perpétua”.

Ora, lendo o artigo em questão, constatamos que isto é um verdadeiro exagero, roça mesmo a calúnia, já que o presidente do PSD rejeitou hoje qualquer coligação de Governo com o Chega, que considerou “um partido instável”. E, mesmo na questão da prisão perpétua, Rui Rio fez questão de separar os vários regimes de prisão perpétua que existem - citando o exemplo da Alemanha em que este tipo de pena é revisto ao fim de 15 anos sob forma de liberdade condicional - e afastando-se daqueles em que alguém pode ser preso por toda a vida.

Na minha opinião, Rui Rio esteve bem nestas declarações, mas deve ser ainda mais assertivo na sua rejeição a qualquer tipo de acordo com o Chega. Denominá-lo de partido instável é insuficiente! Ele tem de deixar claro que o Chega não é um partido aceitável, na nossa democracia, não dando azo a especulações como as feitas por José Luís Carneiro.

Também deve, por isso, resistir a qualquer tentativa de sedução por parte do líder cheguista, que diz estar disponível para “conversar” para afastar António Costa, embora insistindo numa presença no executivo. “Ninguém vota no Chega para ser muleta do PSD, para nós é preciso conversar para haver um Governo que afaste António Costa, o Chega está disponível para conversar no pós 30 de janeiro”. E não ligar a provocações do tipo: com o líder do Chega a acusar o presidente do PSD de querer ser “o vice-primeiro-ministro de António Costa”.

Demonizar António Costa é uma radicalização bem ao jeito do líder da extrema-direita. Não seria, porém, digno de um candidato a Primeiro-Ministro, seria mesmo um grande erro, que lhe custaria votos essenciais. Afastaria eleitores indecisos, alguns que até já terão votado PS e que pensarão: "Costa até nem foi tão mau quanto isso, o melhor mesmo é deixá-lo continuar, em vez de ir o Ventura para o poder". Mas há outro aspecto que convém não ignorar: demonizar Costa é dar-lhe uma auréola de mártir. E, havendo pessoas que adoram mártires, lá fica o homem apetecível a muitos outros eleitores indecisos.

Esperemos que Rui Rio não ceda aos olhos de carneiro mal morto de Ventura, nem se deixe provocar pelas suas acusações. Desejo-lhe muita calma e ponderação!

 

Adenda: sendo as eleições a 30 de Janeiro, penso que vai sendo altura de nós emigrantes recebermos os boletins para a votação postal. Espero que não se repitam os erros de outros anos, em que os boletins são enviados tarde demais, ou nem chegam a ser enviados. Depois, acusem-nos de não ligarmos às eleições portuguesas!

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