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Delito de Opinião

Cadernos de um enviado especial ao purgatório (31)

Luís Naves, 31.08.14

No fundo, há duas grandes correntes de pensamento: a crítica aos excessos do materialismo e a crítica às insuficiências da ideologia.

Para muitos autores, o mundo contemporâneo está em declínio, por ter perdido os seus valores e por se basear no insaciável apetite das classes dominantes. O culto do eu leva ao caos social e condena a sociedade à decadência. Há quem defenda a necessidade do regresso à tradição e, quanto maior o choque com a realidade exterior, mais estes movimentos se encolhem na concha dos respectivos fundamentos ideológicos. As críticas à modernidade podem vir de religiões ou de movimentos anti-capitalistas, mas convergem na ideia de que o mundo está à beira de uma transformação inevitável e que essa transformação nos conduz a algo de fundamental. Existe sempre ali a ideia do regresso a um passado idealizado.

Do outro lado do espelho estão os que se afirmam do mundo pragmático. Para eles, as utopias não passam de ilusões, modas ou resistência ao progresso. Segundo afirmam, o mundo material permite fornecer à maioria dos consumidores as bases essenciais do bem-estar, sendo pouco compreensível o descontentamento que alastra nas sociedades contemporâneas. E perguntam esses materialistas: não será a proposta utópica equivalente a trocar uma vida segura por um estado permanente de incerteza?

Os dois lados estão cada vez mais entrincheirados e o debate alastra à generalidade dos temas, conduzindo ao seguinte problema: nunca fomos tão ricos, tão livres e tão cultos como agora, mas também nunca terá havido vidas tão conscientes do seu vazio; por outro lado, se fôssemos mais felizes, viveríamos com o mesmo acesso à riqueza, liberdade e cultura?

 

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