blogue da semana
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O jornal que mudou a imprensa portuguesa nos anos 80 do século XX tem um nome: O Independente.
Não consigo ser imparcial quanto a esta matéria. É o meu jornal. Fui a estagiária que entrou por provas. Respondi a uma anúncio desenhado por Jorge Colombo que dizia: repórteres absolutamente excelentes precisam-se.
O Indy, como é conhecido, era mais do que um emprego, era mesmo a nossa vidinha. Conheci as pessoas mais maravilhosas nesse período, aprendi muito, cresci e descobri a política. Descobri ainda outra forma de escrever, de fazer fotografar, de editar, de fazer títulos.
Liliana Valente e Filipe Santos Costa, ambos jornalistas, também passaram, como tantos outros, por este jornal que se tornou de culto. Fizeram um pouco mais do que a maioria de nós, nós que nos limitamos a tecer memórias em jantares infinitos e a recordar histórias: escreveram um livro: O Independente - A Máquina de Triturar Políticos.
E como o mundo dos livros é hoje, necessariamente, uma plataforma multimodal de forma a garantir algum sucesso (a edição esgotou e ainda teremos um segundo volume com outras histórias desse período indyiano), os dois jornalistas criaram o blogue que promove o livro. Contudo, não é apenas um blogue para promoção e estratégias de marketing, garantindo que O Independente - A Máquina de Triturar Políticos anda nas bocas do mundo. No blogue podemos encontrar capas de edições exemplares do jornal, excertos de editoriais, de notícias, explicações. Um exemplo? Eis um excerto que pode encontrar no blogue e, depois, talvez tenha vontade de ler o livro:
O ano em que o semanário de Miguel Esteves Cardoso nasceu deu razões para questionar o mito da capacidade técnica de Cavaco. A meta de inflação – um dos dados mais relevantes num país que, pouco antes, a via galopar acima de dois dígitos – devia ficar, nesse ano, pelos 6%. Uma previsão lançada com espalhafato, e gorada com estrondo: no verão, já era certo que a evolução dos preços não ficaria abaixo de 9%. Para Portas, era a demonstração da qualidade dos «técnicos» que governavam. «Se há coisa que um governo de técnicos não pode fazer é enganar‑se nas contas».
«Todo o mundo sabe: as virtudes do governo são as do contabilista, não são as do filósofo. Se o povo está satisfeito, é porque come, não é porque sonha. […] A legitimidade deste governo, em suma, nada tem a ver com a alma. O seu negócio são os números. O que todo o cidadão previdente espera do poder é o que lhe foi anunciado de modo concreto, preciso e verificável. […] Quem promete números tem de os cumprir. [...]»
Vale a pena? Tanto o livro como o blogue. Trabalho exemplar de dois jornalistas de mão cheia.