Delito de Opinião

Na minha busca por um blogue já por mim aqui referenciado e que merecesse nova menção, tropecei n' A Porta Nobre - Contributos para a História do Porto. Porém, qual Martim Moniz, fiquei lá entalada. Deparou-se-me o seguinte anúncio: "Este blog (...) foi inadvertidamente eliminado em fevereiro de 2022. As publicações que consegui recuperar foram realocadas num novo espaço, que o leitor pode encontrar AQUI."

Este AQUI é a Gazeta das Congostas. O seu autor assina Viriato. Ao examinar os postais mais recentes, deparei com uma pérola: o relato de um muito jovem Camilo Castelo Branco sobre um pequeno arraial em Oliveira do Douro, realizado no último domingo de Julho de 1848. Já naquele tempo, o futuro grande escritor se lamentava: é esta uma das popularíssimas festas, que, apesar da descrença, do despoetisamento das turbas, e da apagada e tediosa civilização, permanece ainda com algum brilho do seu antigo resplendor. E não resisto a transcrever mais passagens:

Ao repontar a aurora do belo dia de Julho, o Douro que banha o Porto, desde o cais da Corticeira até o de Massarelos, retratava em suas águas serenas e cristalinas as bandeiras e listrões de vistosas cores, que os últimos bafejos da viração matutina ondulavam brandamente, sobre os mastros dos barquinhos, e na orla dos pavilhões que os defendiam do calor.

O flautista, no seu barco, gemia às primeiras melodias do seu mavioso instrumento, enquanto a orquestra se não ordenava; além, noutro barco, o violinista tirava algumas alegres rabecadas, que alvoratavam os ânimos; num barquinho, mais ao longe, já um solitário romeiro fazia como chorar o seu violão, para que a dama prevenida lhe entendesse no som plangente dos bordões a suave tristeza que lhe ia na alma. Um moço inquieto, da proa da sua gôndola, assoprava pela trompa uns sons desentoados, que faziam rir as moças.

Em boa hora me entalei na Nobre Porta portuense, quatro anos depois de por lá ter passado. Em vez de relembrar um blogue, acabo por descobrir um novo, com a qualidade do anterior nas suas informações preciosas sobre a História do Porto. Mas que fosse apenas pelo relato acima citado, a Gazeta das Congostas já merecia ser aqui nomeada como blogue da semana.