Bloco central? Nem aqui nem em Marte
Em rigor não há muitas diferenças a esperar, no actual contexto europeu, entre um governo PS e um governo PSD. Quem diz o contrário é porque prefere deixar-se levar, sobretudo em tempo de eleições, pelo discurso partidário que, noblesse oblige, põe a tónica nas divergências para criar no eleitorado a percepção de que existem alternativas bem demarcadas para a governação.
Em teoria esta situação seria facilitadora de consensos entre PS-PSD e até da constituição de uma coligação pós-eleitoral. Mas, como frisou António Costa, tal cenário é impensável. Porquê? Porque o que está em questão não é - nunca foi - o governo do país, mas a partilha do poder, que quando é feita pelos antagonistas dominantes é muito mais comprometedora para o normal funcionamento da partidocracia e a conversa de trincheira que a suporta.
Seria politicamente sustentável esvaziar o discurso de ódio que há anos opõe PSD e PS? Como sobreviveria um governo PS-PSD ao arrepio da cultura do passa culpas que sustenta a propaganda dos partidos do arco governativo? De que forma poderia o executivo desvalorizar os seus "inconseguimentos" se estivesse inibido de os justificar com erros do passado?
Isto é que conta. Para a política o País é só a paisagem.