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Delito de Opinião

Banco bom e Banco mau.

Luís Menezes Leitão, 04.08.14

O que foi anunciado ontem pelo Governador do Banco de Portugal, com o Primeiro-Ministro a banhos, constitui um verdadeiro filme de terror para toda a gente. À semelhança de 3 de Agosto de 1968, data em que Salazar caiu da cadeira, 3 de Agosto de 2014 pode muito bem ser o começo do dobre a finados do actual regime. Em primeiro lugar, parece absurdo considerar que os contribuintes não irão ser afectados por esta história. Na verdade, o tal Fundo de Resolução, que substituiria o Estado na recapitalização do Banco, não chega a ter 200 milhões de euros, pelo que só pedindo emprestado o dinheiro da troika se vai conseguir (re)capitalizar o banco bom em 4900 milhões. Dizem agora que depois pedirão o dinheiro aos restantes bancos, quer sob empréstimo, quer sob contribuição para o Fundo. Só que não acredito que haja quaisquer empréstimos e se o Fundo pedir o dinheiro aos restantes bancos arrisca-se a ter que os recapitalizar a seguir. Isto vai ser um círculo vicioso, que no fim o contribuinte acabará por pagar.

 

 

Em relação aos accionistas, a situação é absolutamente aterradora. Tinham investido num Banco, que até há dias as diversas autoridades garantiam estar absolutamente sólido, e agora são atirados um Banco mau, que corresponderá a uma espécie de Mr. Hyde da Banca, enquanto que o Banco Bom, o Dr. Jekyll, irá para outras paragens. Se alguém acha que depois disto há um único investidor que queira pôr um tostão que seja na Banca, está muito enganado. Mas em qualquer caso, prevê-se uma infinidade de processos judiciais, designadamente em torno dos activos que irão para um ou outro Banco.

 

Ao seu serviço: Dr. Jekyll.                        Ao seu serviço: Mr. Hyde.

 

Finalmente temos a situação dos depositantes, os que se visou proteger com esta operação. Não me parece que fiquem muito satisfeitos. Na verdade, o Banco em que tinham colocado as suas poupanças morreu ontem e o Novo Banco, nome que uma espantosa criatividade lhe atribuiu, precisará de ganhar credibilidade, o que nesta sociedade de mercado dificilmente um banco pertença do Fundo de Resolução conseguirá. No fundo, esse Banco, ou passa para os privados a curto prazo, ou estará brevemente envolvido no impasse que a experiência do BPN demonstra. Mas o BPN ainda tinha a vantagem de ter sido atribuído à CGD, uma instituição credível no sistema bancário nacional. Esta é uma solução absolutamente nova e as soluções novas geram desconfiança.

 

Porque se chama a isto um Banco mau? (Aqui podem lavar-se os erros dos Bancos). 

 

Poderia ter-se encontrado outra solução que não esta? Se calhar, não. O que não quer dizer que esta não esteja cheia de problemas e incógnitas. Uma coisa é certa: o mito da saída limpa do programa de ajustamento morreu ontem. E politicamente isso tem um impacto desastroso. 

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