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Delito de Opinião

Balanço de Inverno (5)

Sérgio de Almeida Correia, 05.02.16

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 (Dinheiro Vivo/Lusa)

5. Recuperar o ânimo depois do resultado do camarada Edgar Silva não é tarefa fácil. Recuperar a confiança das suas hostes nos benefícios do acordo com o PS afigura-se porventura menos complicado. Mas que fazer com menos de 4% numas eleições presidenciais? Como justificar a contribuição do PCP na eleição logo à primeira volta de um "Presidente de direita"? Alternativa não há, pelo que o melhor é aguentar antes que venha outro às ordens da troika. Conhecendo-se o PCP, a sua herança, o seu passado histórico de resistência à ditadura, à partida tudo parece possível. De vez em quando engolem-se uns sapos mantendo-se a compostura. Só que hoje os tempos são outros e engolir sapos pode não ser suficiente. O BE é um perigo sempre presente e o PS não irá dar tréguas ao PCP nas primeiras trovoadas, apesar de estarem todos disponíveis para cumprirem, sem grande espalhafato, o que ficou acordado. O chumbo do PEC IV foi na altura um mal menor, mas feitas as contas acabou por sair demasiado caro aos trabalhadores. Antigamente, na URSS, havia os planos quinquenais e eles sabiam qual a penúria com que podiam contar. Desta vez foram anos de penúria sem planificação, ao sabor da troika e dos patrões. O eleitorado do PCP, entretanto, mudou. Escaldou-se. Os tempos também mudaram. As preocupações dos que envelheceram não são iguais às de outrora. Se antes o objectivo era conseguir mais, agora é não perder ainda mais e tentar manter o pouco que se aguentou na rua. O milagre da multiplicação dos votos não aconteceu, não se sabe se algum dia será possível, e se não for a Festa do Avante a malta nunca se encontra. A solução de apoio parlamentar ao Governo do PS é para valer até ao momento em que os ganhos sejam inferiores aos proveitos. Por enquanto, os sindicatos vão-se acomodando e contentam-se em mostrar que existem, mas quando perceberem que a médio prazo também os seus ganhos serão limitados porque o dinheiro não é elástico, então vão querer descalçar a bota do pé direito, a bota que o PS lhes pediu para calçarem, e voltarão à rua. Haja saúde. Nesse dia, os sindicatos regressarão com o estilo de sempre, com os mesmo rostos e predispostos ao risco. E o PCP estará de novo na encruzilhada, mudando de cor, quem sabe se forjando outras alianças. Até lá, é aguardar e ir preparando as autárquicas. Estas coisas levam o seu tempo e o melhor é ser pragmático antes que o PS e BE dêem cabo do que ainda resta do velho PCP.

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