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Delito de Opinião

Austeridade na Rússia leninista (2/2): atracção de investimento estrangeiro, fecho de unidades fabris, equilíbrio do sistema bancário e do orçamento

José António Abreu, 18.12.15

No seu esforço para reconstruir a economia, os bolcheviques regressaram aos princípios do capitalismo. Depois de uma concessão fundamental e ideologicamente difícil, a aceitação da propriedade privada, mostraram grande flexibilidade e dispuseram-se a empregar métodos heterodoxos para tornar possível a recuperação nacional. Lenine, que tinha grandes esperanças de atrair capital estrangeiro oferecendo concessões, foi ainda mais longe do que alguns líderes Brancos, como por exemplo o general Denikin, ao prometer aos estrangeiros a possibilidade de exploração sem limites dos recursos naturais do país. O jovem Estado soviético, contudo, teve pouco êxito em atrair investimento estrangeiro. Dadas as condições económicas existentes e a desconfiança compreensível dos capitalistas, não é de admirar que apenas um montante insignificante de capital tivesse entrado no país.

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A recuperação era muitas vezes travada por «engarrafamentos»: a indústria não podia funcionar sem um sistema de transportes operacional, e os comboios, por sua vez, não podiam funcionar sem combustível. Nessas circunstâncias, o governo tinha de concentrar os seus escassos recursos em zonas fundamentais. A prioridade era a produção de carvão - os mineiros da bacia de Donets e outros lugares receberam alimentação suplementar para que pudessem desempenhar melhor o seu trabalho pesado. A Rússia soviética usou a sua pequena provisão de moeda convertível para comprar locomotivas e material circulante no estrangeiro. Estas medidas necessárias tinham contudo um preço elevado: fornecer melhor alimentação a um grupo só podia ser feito à custa de outros. Economizar com recursos e capital escassos conduziu ao encerramento de muitas fábricas ineficientes.

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Um importante passo para a normalização foi a estabilização da moeda. O governo soviético não era inteiramente responsável pela hiperinflação, tão grave como a alemã, mais conhecida. A depreciação da moeda começou quando o governo imperial decidiu cobrir as despesas de guerra mandando imprimir mais dinheiro; a revolução e a guerra civil agravaram o problema. No seu ponto mais baixo, o país esteve prestes a regressar à economia de troca de géneros; o papel-moeda perdera todo o seu valor. Para salvar a situação, o governo teve de elaborar orçamentos equilibrados e recuperar o sistema bancário. Entre 1922 e 1924 conseguiu, em várias etapas, criar uma moeda estável baseada no ouro.

Após os primeiros dois ou três anos do novo sistema económico, o governo tinha motivos para estar satisfeito com os resultados. A vida começava gradualmente a regressar ao normal. A iniciativa privada dominava a economia, produzindo mais de 50% do rendimento nacional.

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A revolução e as suas consequências imediatas produziram um grande nivelamento social. Com o novo sistema económico, porém, voltou a surgir a diferenciação.

Peter Kenez, História da União Soviética. Edições 70 (2007), pp. 84-87. Tradução de Jaime Araújo.

 

Evidentemente, a diferenciação era inaceitável. Antes a indigência colectiva (ou quase colectiva: elite partidária e burocracia - na prática, sinónimos - viviam bem) que, por razões ideológicas e de consolidação do poder, Estaline trataria de impor a partir do final da década de 1920.